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Em carta de renúncia, ex-diretor financeiro envolvido na crise da Ambipar acusa CEO de ‘vendar olhos’ sobre operações

25/10/2025 00:06 O Globo - Rio/Política RJ

O ex-diretor financeiro da Ambipar, João Daniel Arruda, afirmou em sua carta de renúncia ao cargo que negócios e operações realizadas pelo atual CEO da empresa, Tércio Borlenghi Junior, em parceria com outros executivos da empresa, não eram compartilhadas com ele.
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No anúncio de sua saída da companhia, Arruda afirmou que as movimentações criaram dúvidas sobre a sustentabilidade financeira da empresa, dizendo que não era mais possível saber se a posição de caixa da companhia era sólida e se a liquidez era robusta.
No documento ao qual O GLOBO teve acesso, enviado ao CEO da companhia no último dia 19 de setembro pela manhã, o então executivo afirmou que descobriu negociações financeiras, incluindo transações envolvendo o uso de fundos de direito creditório (conhecido pela sigla FIDCs) sem seu conhecimento por questionamentos de acionistas, bancos e agências de classificação de risco:
“Estou sendo surpreendido com questionamentos de bancos, stakeholders, agências de rating, mercado e mídia especializada sobre operações com FIDCs e negócios que você nunca minimamente me interou (sic)”, disse João em trecho da carta, afirmando que Tércio e Thiago (que pode ser Thiago da Costa Silva, atual diretor de integração e finanças da empresa de gestão ambiental) criaram “uma venda sobre meus olhos”.
No documento, João Arruda afirma que estava tendo “embates constantes” por conta da falta de “adequada transparência no que se correlaciona com possíveis negócios/operações”, e que não estava sendo consultado para analisar as decisões realizadas por Tércio e Thiago.
“Não vou aqui, até porque não tenho condições de fazê-lo, dizer se ocorreram ou não situações concretas ou qual foi o apetite a riscos assumido, etc, etc, (sic) mas é do senso comum de qualquer um que se ocorreram ou estão ocorrendo operações sem que eu seja envolvido na condição de CFO da Ambipar que sou, algo de inusual pode estar inserido nesse contexto”, disse ele.
No documento, o ex-diretor financeiro afirmou ter sido surpreendido por informações no resultado da Ambipar do segundo trimestre: “e você, além de me garantir que não há nada de errado na empresa, prometeu que nada nunca seria omitido de mim e consequentemente, da nossa auditoria e do mercado”, disse João a Tércio, afirmando ainda que estava decidido a deixar a empresa antes mesmo do dia 19.
“Portanto, eu realmente não tenho como ser parte eminentemente figurativa dessa estrutura de gestão financeira que você está impondo” disse Arruda no e-mail, afirmando que não compactuava com a prestação de informações incompletas ao mercado.
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“A mensagem que você está passando para o mercado é de menos governança quando devería (sic) estar sendo o contrário e não posso concordar com este movimento”, disse ele em outro trecho, associando a inclusão da Ambipar em revisões da nota de crédito por agências de classificação de risco.
A Fitch havia inserido o respaldo da empresa de estável para negativo em 12 de setembro, enquanto a S&P havia colocado o rating da empresa em “creditwatch”, espécie de modo de observação, no dia 18, um dia antes do e-mail ser enviado.
Procurada, tanto a Ambipar quanto a defesa de João Arruda afirmaram que não vão comentar as declarações. Nesta sexta-feira, as ações da empresa alcançaram o menor patamar desde que a empresa abriu capital na B3, em 2020, encerrando em desvalorização de 31,58%, aos R$ 0,26.
O centro de toda a crise na empresa no último mês foi um empréstimo com o Deutsch Bank, de US$ 35 milhões. O banco alemão estaria cobrando o pagamento de garantias vinculadas ao contrato, o que poderia ser o gatilho para antecipação de débitos de até R$ 10 bilhões com instituições financeiras do mercado. Por isso, a Ambipar pediu uma cautelar à Justiça fluminense em 25 de setembro para evitar a execução de garantias com credores.
De acordo com o pedido de recuperação judicial da Ambipar, anunciada na madrugada de terça-feira, esses contratos com o Deutsche Bank foram firmados por João Arruda, criando a crise do grupo. Na última semana a Ambipar deu início a uma investigação criminal junto à Polícia Civil de São Paulo para apurar supostas irregularidades praticadas por Arruda.
FIDCs
O uso de FIDCs na operação financeira da Ambipar tem sido questionado na Justiça por credores. Nesta sexta, a 18ª vara Cível da Justiça paulista atendeu a um pedido do Bradesco, tornando público o pedido de responsabilização dos executivos da empresa por operações financeiras que levaram à atual situação da companhia. O banco possui R$ 390 milhões à receber da Ambipar.
De acordo com a petição movida pela instituição financeira, há suspeitas de que o caixa da empresa foi esvaziado por

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