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'Ele me mandou mensagem falando que foi baleado e eu busquei meu pai na mata': filha tenta liberar corpo do pai morto na operação mais letal do Rio

31/10/2025 14:35 O Globo - Rio/Política RJ

Na porta do Instituto Médico-Legal (IML), no Centro do Rio, a merendeira Camila Souza da Silva aguarda vestindo uma camisa branca que estampa o rosto do pai, Jorge Benedito da Silva, de 53 anos, morto em operação no Alemão e Penha.
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Ela segura o celular nas mãos como quem segura um relicário. No aparelho, o último áudio do pai — gravado às 8h43 da manhã da terça-feira — ainda ecoa na memória: “Tô baleado, tô baleado”, disse o pai, em audio enviado.
Desde então, ela não dorme. Passou a quarta e a quinta-feira atrás das grades do IML e do pátio do Detran, no Centro do Rio, tentando conseguir a liberação do corpo. Nesta sexta-feira, ela continua ali, com o rosto cansado e ouvidos atentos a chamada dos agentes.
— Ele mandou mensagem falando que tinha sido baleado, e eu fui buscar meu pai na mata. Fomos nós, a família, que tiramos o corpo de lá. Os policiais não tiraram. Ele tava jogado no chão, como se fosse um lixo de gente. E ele tinha família, né — desabafou Camila.
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José Carlos morava na Vila Cruzeiro, na Penha. Tinha três filhos e era conhecido na comunidade. A filha mais velha, que não nega o envolvimento do pai com o tráfico, fala dele sem rodeios:
— A gente sabia da vida que ele levava, sim. Mas era meu pai, ele tava ali, fazia parte da nossa vida. A gente não tem o que fazer. Ele era tudo pra gente.
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Segundo ela, o pai buscava terminar de pagar sua primeira casa própria. Faltava cerca de R$ 1 mil. O plano dele era deixar para o filho mais novo, de 16 anos.
— Ele dizia que terminando de pagar a casa própria sairia do trafico, mas não deu tempo — disse Camila.
O corpo de José Carlos foi encontrado pela própria família por volta das 10h da noite, quase 14 horas depois da troca de tiros.
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— Tentamos subir quando ele mandou a mensagem, mas não conseguimos. Só mais tarde conseguimos achar. Foi horrível. Ele tava com marcas de tiro na perna e ferimentos que pareci facadas.
esde quarta-feira, a merendeira tenta, com a tia, resolver a liberação do corpo.
— A gente veio aqui e eles disseram pra esperar, pra ligar, mas ninguém deixou a gente ver, nem reconhecer. Tá tudo parado. Ninguém dorme, ninguém trabalha. Tá todo mundo acabado.
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Pouco depois de 4hrs esperando noticias chegou a informação de que o corpo estava pronto pqra ser liberado:
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— Os filhos de policial enterram os deles. A gente também quer enterrar o nosso. Ele pode ter errado, mas era pai, era avô, era gente. Agora vamos fazer isso.
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