De férias ou a trabalho, campo-grandenses testemunharam dia de caos no RJ
O Rio de Janeiro viu nesta segunda-feira (28) a maior crise de segurança dos últimos anos: 64 mortos em confrontos com facções, ônibus incendiados e estações de metrô fechadas. Mesmo em bairros como Ipanema e Copacabana, símbolos do turismo carioca, o dia foi tomado pela tensão. Quem é de Campo Grande e estava por lá viveu de perto o que, até então, só se via pela televisão. A enfermeira Franciane Martim, de Campo Grande, viajou com o marido e a sogra para o Rio esperando uma praia. Mas conta que o clima mudou completamente em poucas horas. “Saí por volta das quatro e meia para ir à farmácia e encontrei tudo fechado. Ontem, nesse mesmo horário, as lojas estavam abertas. Hoje, parecia outra cidade. As pessoas andando rápido, preocupadas, e quem mora longe tentando arrumar lugar pra dormir, porque não ia conseguir chegar em casa.” É difícil "cair a ficha" para quem nunca vivem nada parecido. “A gente não entende bem o que está acontecendo, mas a sensação é de insegurança total. Escutamos helicópteros o tempo todo. Mesmo sem ver nada, o clima assusta.” Até quem já mora por demorou para compreender a dimensão da violência. O engenheiro civil sul-mato-grossense Cláudio Anache, de 69 anos, vive há oito anos em Ipanema e só depois de horas de conflito percebeu que o pânico tomou conta das ruas. “Na parte da tarde o pessoal estava apavorado, principalmente quem mora na zona norte. O metrô parou, os ônibus foram recolhidos. A gente via o comércio abaixando as portas e as pessoas indo embora rápido. Criou-se um clima de tensão que há muito tempo não se via.” Mesmo passado tanto tempo morando no Rio, ele diz que nunca tinha presenciado algo semelhante. “Em oito anos, nunca tinha presenciado assalto aqui. Semana passada, vi um homem arrancando o celular de uma mulher na minha frente. Isso nunca acontecia. A violência estava chegando e dá pra sentir.” O empresário Miguel Kallemback, de 27 anos, é carioca, mas conhece bem Campo Grande, cidade pela qual se apaixonou durante o trabalho nas últimas eleições e onde pensa em voltar a morar. Ele compara as duas realidades e descreve a diferença que mais o marcou. “A melhor coisa de Campo Grande foi poder andar na rua sem ficar olhando pra trás o tempo todo. São violências diferentes, aqui no Rio o domínio do território se faz presente. É difícil falar sobre. Já em Campo Grande o que vemos é um boom de violências de convivência" Entre moradores antigos e visitantes, o sentimento foi o mesmo: medo. O som de helicópteros sobrevoando o céu e o fechamento antecipado de lojas transformaram o cenário do cartão-postal em algo que ninguém esperava viver. “Hoje parecia outra cidade”, resumiu Franciane, uma frase que ajuda a traduzir o susto de quem, a quilômetros de casa, viu de perto o que o Brasil inteiro assistiu assustado. Operação letal A megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, deixou ao menos 64 mortos, sendo 60 suspeitos de envolvimento com o Comando Vermelho e quatro agentes de segurança. Já é considerada a mais letal da história do estado, superando em mais do dobro o número de mortos do Jacarezinho em 2021 A ação hoje mobilizou 2,5 mil policiais e promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), resultou em 93 fuzis apreendidos e 81 prisões. Durante os confrontos, traficantes chegaram a usar drones equipados com explosivos contra as forças policiais, em uma demonstração inédita de poder de fogo. O governo estadual admitiu não ter condições de conter sozinho a crise, classificando o episódio como um conflito que ultrapassa o âmbito da segurança pública tradicional. O cenário foi de guerra: ônibus foram usados para bloquear ruas, o transporte público entrou em colapso e parte da população precisou percorrer longas distâncias a pé para voltar para casa. O caos se espalhou pela capital e pela Região Metropolitana, com fechamento de escolas, universidades e comércios. Instituições como UFRJ, Uerj, UFRRJ e Fiocruz suspenderam atividades, e até a Câmara Municipal cancelou sua sessão do dia. Ruas desertas, estações lotadas e o medo generalizado marcaram o fim de um dia que expôs o alcance e a gravidade da violência urbana no Rio de Janeiro. Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais .
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