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Chiclete pré-histórico? Goma mastigada há 5 mil anos pode revelar segredos da vida no Neolítico

17/10/2025 07:02 O Globo - Rio/Política RJ

No fundo de um lago ou em um vilarejo à beira de um rio, alguém do Neolítico mastigava um pedaço de resina de bétula. O gesto, aparentemente trivial, agora oferece um vislumbre extraordinário da vida cotidiana de mais de 5 mil anos atrás. Pesquisadores descobriram que essa “goma de mascar” pré-histórica carrega informações valiosas sobre dieta, trabalho e práticas sociais das primeiras comunidades agrícolas europeias.
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O estudo, publicado nesta quarta-feira (15) na revista Proceedings of the Royal Society B, foi liderado por Hannes Schroeder e Anna White, do Globe Institute da Universidade de Copenhague, na Dinamarca. A equipe analisou 30 artefatos de alcatrão de bétula de nove sítios arqueológicos nos Alpes e regiões vizinhas, combinando técnicas de cromatografia gasosa com espectrometria de massa e sequenciamento de DNA antigo.
As análises revelaram restos genéticos humanos e microbianos, além de vestígios de plantas e animais como trigo, cevada, avelãs, ervilhas, papoulas, peixes de água doce, ovelhas e javalis. Isso permitiu aos cientistas reconstruir hábitos alimentares, bem como identificar a produção e o uso de ferramentas e cerâmicas reparadas com o mesmo material.
O piche de bétula, considerado o mais antigo material sintético conhecido, tinha usos múltiplos: colar ferramentas de pedra, consertar cerâmica e, aparentemente, servir como goma. Em alguns casos, ele era misturado com resina de conífera, alterando suas propriedades mecânicas para tarefas específicas. “A presença de DNA humano e DNA microbiano oral indica que o alcatrão foi mastigado, em alguns casos por mais de uma pessoa”, observaram os pesquisadores.
A investigação também trouxe indícios sobre a organização social: o DNA humano recuperado sugeriu que homens e mulheres poderiam ter participado de atividades diferentes dentro das comunidades agrícolas. Além disso, o estudo reforça a ideia de que práticas higiênicas, medicinais ou sociais estavam associadas ao uso da resina.
Apesar das descobertas, os cientistas alertam para limitações na preservação do DNA antigo, especialmente em peças expostas ao calor ou submetidas a processos pós-escavação. Mesmo assim, o trabalho demonstra como a integração de análises químicas e genéticas pode aprofundar o entendimento sobre as práticas culturais do passado. “Este estudo confirma a diversidade de usos do piche de bétula na Europa Neolítica e seu valor para reconstruir a vida cotidiana dessas comunidades”, concluíram.

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