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Bruno e Dom: presidência da Funai sob governo Bolsonaro também foi acusada de constranger servidores após morte de dupla

16/10/2025 19:01 O Globo - Rio/Política RJ

A condenação do presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) durante o governo Bolsonaro, Marcelo Xavier, por perseguir servidores do órgão e lideranças originárias para pressionar pela liberação do Linhão de Tucuruí não é fruto de um caso isolado. A presidência da autarquia foi acusada de constranger funcionários após a morte do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, no Vale do Javari, em 2022.
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A denúncia foi revelada em reportagem do GLOBO publicada em março de 2023. O texto mostra que, um mês após o assassinato do indigenista Maxciel Pereira dos Santos, em Tabatinga, na tríplice fronteira com a Colômbia e o Peru, em 2019, o então presidente substituto da Funai, Alcir Amaral Teixeira, ouviu em uma reunião relatos de temor de servidores que atuavam no Vale do Javari e temiam ser os próximos a serem executados.
A reunião foi no dia 9 de outubro, mas Alcir afirmou que as denúncias não tinham consistência para serem investigadas e ainda lembrou que falsas denúncias de crime poderiam ser punidas por lei.
— Logo que Maxciel foi assassinado, todos os servidores ficaram em pânico. Entrei em contato com a presidência por várias vezes, sem sucesso, e sequer queriam fazer uma nota de pesar pela morte dele. Depois vivemos essa situação surreal de ter o presidente da Funai na nossa frente desconfiando de nossos relatos e nos ameaçando indiretamente de que notícia de falso crime é crime também. Eu cheguei a questioná-lo sobre o que, para ele, configurava uma ameaça, não podia crer naquilo — lembrou ao GLOBO a indigenista Danielle Moreira Brasileiro, que atuava como coordenadora regional do Vale do Javari na época.
De acordo com Danielle, a sensação de insegurança no Vale do Javari, que já não era tranquila, ficou ainda mais insustentável com a morte de Maxciel. Até então, a base de proteção do rio Ituí já havia sido atacada a tiros por pelos menos oito vezes.
— Alcir duvidou e queria ir até a base do Ituí, onde pôde verificar as marcas dos tiros nas placas, mas sempre com desconfiança. Foi uma situação de completo assédio moral, pois afinal estávamos psicologicamente abalados, com uma lista dos próximos servidores ameaçados, sabendo que havia grupo criminoso envolvido. Foi total negligência e omissão dele — afirmou.
Trecho da ata de reunião realizada no Vale do Javari um mês após a morte do colaborador Maxciel dos Santos
Reprodução
Segundo um trecho do documento obtido pelo GLOBO, Teixeira afirmou que não adiantaria investigar o caso porque "não traria resultados".
"O Presidente Substituto salientou que os pedidos de exercício à distância de funcionários que se sentiram inseguros após o assassinato de Maxciel foram respondidos através do processo SEI n° 08744.000233/2019-39. Segundo ele, as ameaças alegadas por estes funcionários não possuem materialidade e não foram devidamente registradas. Ele ressaltou a necessidade destes registros serem feitos sempre que uma situação de ameaça for percebida, indicando os nomes das pessoas envolvidas na manifestação de tais ameaças. Para ele, apesar de ser possível a instauração de inquérito acerca destas ameaças, ele julga que o procedimento não trará resultados, pois não há materialidade nos casos de ameaça relatados, citando o artigo n° 340 do Código Penal, o qual institui que uma informação sobre ameaça feita sem evidência pode ser configurada como crime", diz trecho da ata.
Danielle se recorda que dois meses antes de Maxciel ser assassinado, a Funai e o Exército tinham feito uma apreensão de redes dos pescadores ilegais, que foram queimadas na sequência. Logo depois disso, ela foi ameaçada pessoalmente por homens enviados por Ruben Villar, o Colômbia, investigado como mandante das mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, e agora, também como o contratante dos pistoleiros que executaram Maxciel.
— Eles ficaram sabendo que as redes foram queimadas. Passaram na sede da Coordenação Regional duas ou três vezes até me encontrar. Um deles, de nome Chico Preto, falou textualmente que o Colômbia havia ficado revoltado com a ação da Funai e que nós deveríamos pagar o prejuízo calculado em R$ 15 mil e que isso não ficaria assim. Nesse dia, eles falaram que era o Colômbia que financiava eles — afirmou.
Trecho da ata de reunião da Funai em que presidente Alcir diz a servidores que não há 'materialidade' nos casos de ameaça
Reprodução
Danielle prestou depoimentos ao Ministério Público Federal (MPF) sobre o episódio das redes e também à Polícia Federal, por mais de uma vez. As investigações sobre o caso, no entanto, não avançaram e a PF a chegou a opinar pelo arquivamento. O MPF foi contra.
Um fonte da PF que acompanhou as investigações de perto afirmou que o assassinato de Maxciel só foi rea

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