Brasil registra rombo recorde de US$ 9,8 bilhões nas contas externas de setembro
As contas externas do Brasil registraram déficit de US$ 9,8 bilhões em setembro de 2025, o maior saldo negativo para o mês desde o início da série história, em 1995. O número, divulgado nesta sexta-feira pelo Banco Central, representa uma piora em relação ao mesmo período em 2024, quando o déficit foi de US$ 7,4 bilhões, e reflete sobretudo o aumento das importações e das remessas de lucros e dividendos para fora do país.
Nos últimos 12 meses, o déficit acumulado nas contas externas chegou a US$ 78,9 bilhões, o equivalente a 3,6% do PIB, acima dos US$ 49,8 bilhões (2,2% do PIB) registrados um ano antes. O dado indica uma maior necessidade de financiamento externo para cobrir as despesas do país com o resto do mundo.
Importações recordes puxam o resultado
O principal motivo para o aumento do déficit foi a queda no saldo comercial — a diferença entre o que o Brasil vende e o que compra de outros países. Em setembro, as exportações somaram US$ 30,7 bilhões, alta de 7% em relação a um ano atrás. Mas as importações cresceram ainda mais: 17,4%, chegando a US$ 28,4 bilhões, o maior valor já registrado.
Segundo o Banco Central, esse salto foi influenciado pela compra de uma plataforma de petróleo, que custou US$ 2,4 bilhões. Como as importações aumentaram mais do que as exportações, o superávit comercial — o “lucro” das trocas de bens com o exterior — caiu para US$ 2,3 bilhões, metade do registrado no mesmo mês do ano passado.
Gastos com lucros e serviços também cresceram
Além do comércio de bens, o país também tem gastos com serviços e rendas — como transporte, viagens e o envio de lucros de empresas estrangeiras instaladas aqui.
A conta de serviços teve uma leve melhora, com déficit de US$ 4,9 bilhões, já que o Brasil gastou menos com transporte e serviços de tecnologia. Mas as despesas com licenças, softwares e direitos autorais aumentaram 65%, e os gastos com viagens internacionais ficaram estáveis em US$ 1,3 bilhão.
O envio de lucros e dividendos por multinacionais, porém, cresceu muito: foram US$ 5,4 bilhões, ante US$ 4,3 bilhões em setembro do ano passado. Essas remessas, junto com o pagamento de juros da dívida externa, fizeram a conta de rendas ter déficit de US$ 7,6 bilhões.
Investimento estrangeiro bate recorde
Mesmo com o aumento do déficit, o Brasil continuou atraindo investidores estrangeiros. Os Investimentos Diretos no País (IDP) — que são recursos aplicados em fábricas, empresas e projetos de longo prazo — somaram US$ 10,7 bilhões em setembro, o maior valor já registrado para o mês.
O número é quase o triplo do observado em setembro de 2024 (US$ 3,9 bilhões). Desse total, US$ 4,2 bilhões vieram de novos aportes, US$ 4,6 bilhões foram lucros reinvestidos por empresas que já atuam aqui, e US$ 1,9 bilhão veio de operações entre companhias do mesmo grupo.
Nos últimos 12 meses, o investimento estrangeiro direto chegou a US$ 75,8 bilhões, o equivalente a 3,5% do PIB — um sinal de confiança dos investidores na economia brasileira.
Os investimentos em carteira, que são aplicações mais rápidas e de curto prazo, também ficaram positivos: US$ 4,4 bilhões em setembro, puxados pela compra de títulos de dívida brasileiros.
Reservas e câmbio
As reservas internacionais — espécie de poupança em dólares que o Brasil mantém para emergências — subiram US$ 5,8 bilhões em setembro, totalizando US$ 356,6 bilhões. O aumento veio de ganhos com juros e variações cambiais, além de operações de recompra.
Até 22 de outubro, o Banco Central registrava exportações de US$ 16,1 bilhões e importações de US$ 12,9 bilhões, com saldo positivo de US$ 3,2 bilhões. No setor financeiro, no entanto, houve saída líquida de US$ 4,4 bilhões, ou seja, mais dólares deixaram o país do que entraram.
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