Artur Jorge reflete sobre vida no Catar e saída do Botafogo: 'Quem me valorizou é quem me tem'; leia entrevista exclusiva
Muita coisa mudou na vida de Artur Jorge desde a conquista dos títulos do Brasileirão e da Libertadores com o Botafogo, há um ano. O português trocou o Rio de Janeiro por Doha, onde treina o Al-Rayyan em condições bem diferentes das experimentadas por aqui: sem a pressão frequentemente exagerada, mas também longe da paixão dos torcedores. Sua vida pessoal, sobre a qual evita dar detalhes, também sofreu uma reviravolta. Artur terminou um casamento de 30 anos para viver um romance com Hanna Santos, neta do ídolo alvinegro Nilton Santos e com quem vive hoje no Catar. Em conversa com O GLOBO no hotel cinco estrelas onde mora, no The Pearl, Artur falou sobre a vida no Oriente Médio, os desafios do futebol local e o desejo de voltar a trabalhar no Brasil.
Você vai completar um ano no Catar. Que balanço faz desse período?
Quando cheguei, foi um período de adaptação para mim. Vinha de uma realidade completamente diferente, mas (a primeira temporada) nos serviu para conhecer o time, o campeonato, a estrutura do clube. Pessoalmente, noto que o meu trabalho vem também para acrescentar valor. É um trabalho que tem e traz mais do que só o componente técnico, porque nós temos também um papel importante na estruturação e no desenvolvimento do próprio clube. Não é fácil ganhar e ter sucesso aqui, porque há também alguma diferença naquilo que é a mentalidade que aqui se tem, que ainda é menor em termos competitivos.
Você sente as diferenças entre a paixão dos torcedores no Brasil e no Catar? Consegue andar na rua com mais tranquilidade por aqui?
Essa é uma das grandes diferenças. Aqui, sinto que as pessoas gostam de futebol, mas não é uma paixão. É uma das coisas de que mais sinto falta aqui: de viver essa paixão pelo futebol, porque eu sou um apaixonado pelo futebol. E aqui (no Catar) o futebol é um complemento e nada mais do que isso. Nós temos abordagens na rua, temos pessoas que pedem para tirar foto ou falar um pouco comigo, mas não é comparável de forma nenhuma com o Brasil ou com a própria Europa.
Artur Jorge, treinador do Al-Rayyan
Divulgação
Como se mantém estimulado mesmo com o baixo número de torcedores no estádio?
De fato, não temos um grande número de torcedores no estádio. E esse é o grande desafio para nós também, para nos motivar a jogar em estádios que são magníficos, mas com um baixo número de torcedores. Temos que encontrar formas de pensar que estamos aqui por um propósito, e esse propósito é também trazer torcedores ao estádio, mas que não é fácil. No Brasil, a paixão é constante, que se vive de jogo a jogo, e entre jogos nós sentimos toda essa energia. Isso não existe aqui, a cobrança é zero também. É uma realidade oposta.
Agora que já viveu os dois lados, prefere a cobrança do Brasil com o estádio cheio ou o estádio vazio e a cobrança mais leve do Catar?
Como um adepto de futebol, obviamente sinto falta de ter um estádio cheio, sinto falta da paixão. Prefiro claramente a realidade de um Brasil, onde de fato nós jogamos em todos os estádios cheios e com uma energia muito vibrante, uma energia que é motivadora para mim, que me alimenta e é um combustível muito forte para o nosso dia a dia.
Quando você estava no Brasil, viralizou uma reportagem que revelava seu prato favorito (uma picanha “Osvaldo Aranha"). Já tem um preferido no Catar?
O cordeiro, que aqui é um prato muito forte e está presente em quase tudo, de várias formas, e eu gosto. Já gostava também em Portugal, portanto é uma questão de adaptação fácil. Em casa, nós fazemos mais a nossa comida, Portugal-Brasil, é um mix das duas culturas, vivemos aquilo a que estamos mais habituados.
Artur Jorge em treino do Al-Rayyan, em Doha
Al-Rayyan/Divulgação
Sua história com o Botafogo chegou ao fim ou as portas estão abertas?
O Botafogo foi um projeto que teve um princípio e um fim. Começou com um desafio de poder acrescentar e ganhar títulos, e teve depois um final com os títulos conquistados. É um projeto de sucesso e 100% vitorioso. E, como em cada um dos projetos, nós temos que andar sempre de forma gradual e pensar que novas etapas virão. Nesta altura, estou completamente focado no Al-Rayyan, mas uma nova etapa surgirá seguramente, seja para a Europa, seja até no mercado do Oriente Médio ou para voltar ao Brasil.
Clubes do Brasil te procuraram recentemente. Considera, então, voltar algum dia para o país?
Isso é uma consequência do trabalho que nós fizemos no Brasil em termos de conquistas e de um ano extraordinário. Estou muito feliz aqui e decidi vir para cá para poder fazer parte de um projeto em que me sinto muito confortável. Depois, sim, eu já disse também que faz parte do meu plano de carreira voltar a treinar no Brasil, é um mercado que me interessa muito e me parece ser um passo que mais cedo ou mais tarde irei dar.
Sua saída do Botafogo foi ruidosa, em meio a atritos com John Textor, dono da SAF. Você se arrepende da forma como a ruptura foi conduzida?
Saída é uma saída só. Já falei demais sobre isso. É uma saída que não vai trazer nunca esc
Fonte original: abrir