
Arbitragem brasileira: a ferida cultural que Danilo expôs
Ele jogou anos na Europa e trouxe um recado direto: o maior erro do futebol brasileiro não vem do apito, vem do comportamento..
Matheus Dantas/Itatiaia
“O debate da arbitragem vai muito além de Flamengo e Palmeiras. É um tema que precisa sentar muita gente na mesa: clubes, atletas, árbitros, comissão de arbitragem, CBF. Passa primeiro pela educação de todos. Os árbitros vêm muito pressionados, é muito difícil arbitrar, mesmo com o VAR. Nós atletas e comissão reclamamos o tempo todo, gritamos.”— Danilo, camisa 13 do PalmeirasDanilo viveu quase uma década no futebol europeu e, ao voltar, tocou onde mais dói: a cultura da bola no Brasil trata a arbitragem como inimiga. Aqui, o erro é visto como provocação. E a cada rodada, o campo se transforma num tribunal de queixas.A pesquisa Atlas Intel, divulgada em 16 de outubro e citada pela Veja, mostrou o tamanho da crise de credibilidade:65% dos brasileiros rejeitam a arbitragem do Brasileirão 2025;46% estão muito insatisfeitos, e 10% insatisfeitos;50% dos torcedores consideram os árbitros nada confiáveis;51% apontam a falta de critérios iguais em lances parecidos como o maior problema;34% citam a falta de preparo técnico;32% reclamam da falta de transparência nas decisões do VAR;e 16% mencionam a influência de apostas.Entre os árbitros mais rejeitados estão Ramon Abatti Abel (38%), Wilton Pereira Sampaio (27%) e Anderson Daronco (25%).Do outro lado, os mais bem avaliados são Rafael Claus e Leandro Vuaden, ainda assim com apenas 25% de aprovação positiva — números que, em qualquer sistema sério, acenderiam o alerta.Na Europa, o erro é parte do jogo. No Brasil, é parte do caos.O problema não é o VAR, é a falta de educação institucional, que começa nos gramados e contamina arquibancadas e redes sociais.Enquanto árbitros forem tratados como culpados antes do apito inicial, enquanto comissões técnicas e jogadores cercarem e gritarem a cada lance, enquanto dirigentes usarem a imprensa para alimentar teorias de favorecimento, não há tecnologia que resolva.A fala de Danilo é um convite à reflexão: profissionalizar é preciso, mas educar é urgente.Saramago escreveu que “a cegueira também é isto: viver num mundo onde ninguém escuta ninguém.”No futebol brasileiro, todos gritam, ninguém ouve.E enquanto o apito continuar soando como sentença, o jogo jamais será justo.
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