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Uma geração que não pensa nas consequências: reflexões sobre a Geração Z

13/10/2025 12:11 Campo Grande News - Política

Muito já se falou sobre gerações. Cada uma carrega consigo marcas sociais, culturais, políticas e econômicas que moldam sua forma de ver o mundo. A chamada Geração Z, formada em grande parte por aqueles que nasceram entre meados da década de 1990 e 2010, cresce sob os olhares atentos e, muitas vezes, críticos das gerações anteriores. Se por um lado são considerados jovens criativos, adaptáveis e conectados, por outro carregam a marca de uma crítica recorrente: a dificuldade de medir as consequências de seus próprios atos. O imediatismo como traço predominante A tecnologia moldou profundamente a forma de pensar da Geração Z. Essa é a primeira geração que nasceu plenamente inserida no universo digital: internet, redes sociais, smartphones e informação em excesso. Se as gerações anteriores precisavam de tempo e paciência para pesquisar, escrever cartas ou esperar horas para receber notícias, os jovens de hoje experimentam o “tudo agora”. Essa pressa por respostas imediatas, likes instantâneos e recompensas rápidas os torna mais suscetíveis a agir sem ponderar. A paciência, virtude que carrega consigo o valor de esperar e refletir, muitas vezes é substituída pela ansiedade de reagir no calor do momento. A cultura do “apagar depois” Um dos símbolos dessa postura é a naturalidade com que muitos da Geração Z tratam suas próprias ações digitais. Fotos, opiniões e comentários são postados sem reflexão, sob a crença de que tudo pode ser apagado depois — mas a realidade mostra que a internet tem memória infinita. Essa sensação de que tudo é efêmero reduz o peso das escolhas, como se as palavras e atitudes não deixassem marcas. O problema é que deixam — tanto nas próprias trajetórias quanto na vida das pessoas que são impactadas. A busca por autenticidade sem responsabilidade Outro traço comum é a valorização da autenticidade. Jovens dessa geração costumam ser menos tolerantes a máscaras sociais e procuram mostrar-se “de verdade”, sem filtros no sentido comportamental. Isso é positivo até certo ponto, mas a autenticidade muitas vezes é confundida com a falta de responsabilidade. “Falo o que penso e pronto” pode parecer coragem, mas sem consciência das consequências pode se tornar grosseria, agressividade e até destruição de vínculos. O peso do agora e a ausência do depois A Geração Z foi moldada por crises constantes: recessões econômicas, mudanças climáticas, pandemias, polarizações políticas e um futuro incerto. Crescer nesse ambiente trouxe uma percepção de que o amanhã é instável demais. Por isso, muitos não se planejam, não projetam metas a longo prazo e vivem apenas o presente. Se há mérito em aproveitar o hoje, há também risco: sem visão de futuro, as escolhas de agora podem se transformar em armadilhas que comprometem carreiras, relacionamentos e saúde mental. As exceções que apontam esperança É preciso reconhecer, no entanto, que essa análise não pode ser generalizada. Dentro da própria Geração Z, há jovens que são extremamente conscientes, engajados e preocupados com o impacto de seus atos no mundo. Não à toa, é a geração que mais se mobiliza em causas ambientais, sociais e de justiça. O desafio é que esse engajamento coletivo nem sempre se traduz na responsabilidade individual cotidiana. Muitos lutam por grandes causas, mas esquecem de pequenos gestos diários que refletem maturidade e compromisso. O papel da educação e do diálogo Criticar uma geração sem oferecer caminhos é reduzir o debate à reclamação. A chave para transformar esse imediatismo em reflexão está na educação e no diálogo intergeracional. É preciso ensinar que cada ação tem um peso, cada palavra carrega consequências e cada escolha molda o futuro. Mais do que transmitir informações, é necessário formar consciência: mostrar que o impacto de uma decisão vai além do momento em que ela é tomada. Entre o risco e a potência A Geração Z carrega dentro de si um paradoxo. De um lado, o risco de viver no impulso, sem considerar os efeitos de seus atos; de outro, a potência de ser a geração mais adaptável, criativa e capaz de se reinventar. O que determinará seu legado não será apenas a tecnologia ou o contexto em que nasceram, mas a capacidade de aprender a pensar antes de agir, de equilibrar autenticidade com responsabilidade e de entender que toda liberdade vem acompanhada de consequências. No fim das contas, talvez a pergunta não seja apenas sobre a Geração Z. Talvez devamos olhar para nós mesmos e refletir: será que estamos dando o exemplo de responsabilidade e consciência que tanto cobramos deles? (*) Cristiane Lang é psicóloga clínica.

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