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Morte à luz do dia, furto, depredação: poder público perdeu controle para drogas

13/10/2025 13:12 Campo Grande News - Política

Do Centro aos bairros, usuários de drogas circulam livremente, tomam calçadas e intimidam moradores e comerciantes mesmo à luz do dia. O consumo e a presença constante desse público já não se restringem a pontos isolados. Depois do assassinato de Wangley Pereira Reis, de 30 anos, à luz do dia, na tarde de quinta-feira (9), o  Campo Grande News percorreu três regiões da Capital, que circulam o Centro da cidade, e encontrou um cenário que, segundo os moradores, sentencia: o poder público perdeu o controle em relação ao uso de drogas. O homem foi encontrado morto, com marcas de tiros, às margens do Rio Anhanduí, na região do Bairro Guanandi. Moradores contaram que o local onde o corpo estava é utilizado por muitas pessoas para levantar barracos. A cena, segundo eles, é comum e mostra que a presença de usuários de drogas se consolidou na paisagem urbana. Pelas ruas do Nhanhá, do Guanandi e ao longo do prolongamento da Avenida Ernesto Geisel, a reportagem encontrou marcas deixadas pela insegurança. As residências, protegidas por muros altos, são cercadas por concertinas, cercas elétricas e câmeras de segurança. Um trabalhador chegou a investir em correntes para tentar proteger a motocicleta. O lixo espalhado pelo asfalto e às margens do córrego, junto com barracos improvisados, terrenos invadidos e casas depredadas, compõe o cenário dos bairros visitados. No Guanandi, a dona de casa Célia Regina Marques, de 53 anos, conta que até pouco tempo o movimento de andarilhos era intenso na Rua Graúna, onde mora. Segundo ela, os terrenos vazios ao redor da residência serviam como ponto de encontro para queimar fios de cobre e até eram usados como “motel” durante a noite. Há alguns meses, começaram as obras para construção de um conjunto de casas em uma dessas áreas. Com o serviço, os usuários de drogas migraram dos terrenos para o final do córrego da Avenida Ernesto Geisel. “Aqui ainda tem muitos usuários que andam pela rua, que moram ali no córrego. Ontem mesmo teve um assassinato ali. Eu não me sinto segura porque ainda há muitos terrenos vazios, e a gente acaba tendo que se adaptar para tentar se proteger”, relata. Célia lembra que a sensação de insegurança aumentou há cinco anos, quando foi feita refém dentro de casa. “Aumentei meu muro porque teve um dia em que fui levar minha filha na escola e, quando voltei, um cara tinha pulado e estava dentro da minha casa. Ele levou coisas pequenas, mas fiquei refém até ele pegar o que queria. Dava pra ver que era usuário”, relembra. Outra vítima da violência envolvendo andarilhos foi a sobrinha de Célia. “Esses dias ela vinha aqui e, no cruzamento da Manoel da Costa Lima com a Ernesto Geisel, parou no sinal. Um andarilho pediu dinheiro, ela disse que não tinha, e ele deu um murro nela. Se ela não tivesse desviado, teria pego no rosto”, conta. No Centro da Capital, o cenário se repete. A diferença é que o consumo de drogas ocorre sem qualquer tentativa de esconder ou disfarçar a ação. Assim como nos bairros, moradores e comerciantes preferem o silêncio, com medo de retaliações. “Prefiro não me expor, porque a coisa continua e está complicado aqui”, disse Ezio Ribeiro, de 61 anos. Comerciante há mais de 40 anos, Ezio tem uma loja de colchões na esquina da Rua Barão do Rio Branco, ao lado da antiga rodoviária. A uma quadra dali, duas esquinas são ocupadas por usuários de drogas, que se espalham pelas calçadas com colchões e cobertores.  No local, aproveitam o semáforo para abordar motoristas e pedestres. “Aqui tem briga direto entre eles. Eu queria falar diferente porque sou comerciante, preciso de público, de clientes, mas não posso”, lamenta. Por causa da presença constante de usuários, o comerciante tem perdido clientes. “Os clientes não vêm, ficam com medo, com receio. Quando falam ‘antiga rodoviária’, lembram dos drogados, e isso assusta”, explica. Para ele, a situação já saiu do controle do poder público. “Eles não têm mais controle. Eu fico porque tenho um nome aqui, sou conhecido na região e já tenho clientela”, afirma. E o problema acaba atingindo toda a cidade, Mesmo quem vive mais afastado dos pontos de maior aglomeração sente os reflexos. “Moro perto do museu, na Guaicurus. Lá não tem muito movimento de andarilhos e usuários, mas sempre sofremos com furto de fio. Não temos grandes impactos, mas ainda pegamos a rebarba deles”, conta Mário Márcio Brito, de 50 anos. A presença, principalmente, da pasta base nas ruas, a falta de políticas de prevenção ao uso de drogas expõem uma cidade que parece ter naturalizado o problema.  O Campo Grande News procurou a SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) para falar sobre as políticas públicas que são realizadas pela secretaria. A reportagem também questionou os desafios encontrados durante a realização dos trabalhos.  Em primeiro contato, a assessoria de imprensa da SAS explicou que os servidores responsáveis que poderiam comentar sobre o tema estavam participando de um seminário de capacitação.

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