Um pacto para baixar emissões de CO2 na cadeia produtiva
Na trigésima edição da COP, as emissões de carbono estarão na berlinda. Segundo o relatório da Organização Meteorológica Mundial, da ONU, os níveis de CO2 atingiram novos patamares em 2024, o primeiro ano a registrar mais de 1,5°C acima da era pré-industrial. Entre 2023 e 2024, o aumento da concentração de gases de efeito estufa deu o maior salto anual desde o início da série histórica, em 1957.
Decorrência direta desse crescimento, os eventos extremos causados pelas mudanças climáticas estão ficando mais intensos e menos espaçados — o que não é surpresa. Os cientistas do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC, na sigla em inglês), lançado em 2023, alertam para o fato de que os ecossistemas mais frágeis são os mais atingidos, como manguezais, áreas costeiras e semidesérticas.
Estudo feito pelo World Economic Forum em 2024 mostra que, até 2050, as mudanças climáticas poderão causar mais 14,5 milhões de mortes e US$ 12,5 trilhões em perdas econômicas em todo o mundo.
Diante desse cenário, o Governo Federal instituiu, no dia 15 de outubro, a Secretaria Extraordinária do Mercado de Carbono, vinculada ao Ministério da Fazenda, que será responsável por definir metodologias para a contabilidade das emissões. O órgão vai determinar quais gases de efeito estufa serão levados em conta, além do dióxido de carbono, e garantir a inexistência da dupla contagem — quando uma mesma redução de emissão é contabilizada duas vezes por países ou projetos diferentes, prejudicando a integridade ambiental do acordo.
CIRCUITO MAIS CURTO
Uma parte do problema pode estar no fato de as iniciativas na produção das empresas não considerarem a cadeia produtiva. É o que defende o Instituto E+ Transição Energética, um think tank brasileiro independente que atua conectando governos, indústria, sociedade civil e academia para pautar a transição energética e a transformação verde do setor industrial como vetores do desenvolvimento socioeconômico do país. Uma equipe do instituto acaba de produzir o documento “Consenso Belém”, que será apresentado às autoridades na COP30.
Em resumo, a ideia do trabalho é comprovar que faz mais sentido produzir próximo de onde estão as matérias-primas para causar menos impacto ao meio ambiente. O diretor de economia e energia sustentável do E+, Clauber Leite, argumenta que o propósito não é substituir o Consenso de Washington — medidas elaboradas em 1989 pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial para resolver a crise econômica na América Latina —, mas reformulá-lo um pouco.
“É uma reestruturação do Consenso de Washington, de modo a contar com elementos que proporcionem melhor igualdade social, algo que ele não conseguiu atender. Além disso, incluímos no texto o enfrentamento da crise climática, que é um dos maiores desafios do nosso tempo”, explica o especialista.
“O Brasil tem uma das maiores reservas de silício do mundo, exportando para a China e a Europa, onde o beneficiam utilizando energia fóssil. Depois, a China produz painéis solares que nós importamos. No final, tratamos como 'verde' essa produção, pois se trata de um produto que vai gerar energia solar, mas há muita emissão de gases na sua cadeia, do transporte à produção”, contextualiza Clauber.
O ideal, segundo a proposta do Instituto E+ Transição Energética, é que essas nações instalem fábricas no Brasil, o que implica oferta de mão de obra qualificada. “Chamamos esse processo de realocação de produção, o que traz vantagens não só para o meio ambiente, como também para os aspectos social e econômico, já que essa mudança levaria emprego e prosperidade para os países que fornecem a matéria--prima”, explica o diretor.
Para que dê certo, no entanto, é preciso que exista um ambiente regulatório estável, admite o executivo, ressaltando a importância do papel do Estado. Com regras bem formuladas, as empresas que querem, de fato, descarbonizar sua produção terão segurança para fazer isso sem perder mercado — ao contrário. “Já tivemos muita perspectiva negativa. O que tinha que dar errado já deu. Agora estamos acreditando que a COP30 vai gerar resultados”, concluiu.
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