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Sob pressão da crise hídrica, startups que reduzem desperdício de água usam até IA que 'ouve' vazamentos

07/11/2025 06:31 O Globo - Rio/Política RJ

Em meio aos sinais de alerta sobre o risco hídrico provocado pelas mudanças climáticas, a maior crise do saneamento brasileiro acontece debaixo do asfalto, longe dos olhos do público. A mais recente pesquisa do Instituto Trata Brasil revelou que o país perdeu 7,257 bilhões de metros cúbicos de água limpa, o equivalente a quase três bilhões de piscinas olímpicas cheias. Diante de uma sangria que ameaça a segurança hídrica, especialmente em metrópoles como São Paulo, startups nacionais apostam em tecnologia de ponta para combater as perdas.
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Sensores avançados, fibra óptica, robôs, e, sobretudo, a inteligência artificial (IA) tornaram-se ferramentas indispensáveis na detecção e contenção de vazamentos nas vastas e envelhecidas redes de distribuição. A caça aos vazamentos, que tradicionalmente dependia de hastes de escuta e geofones operados por profissionais treinados (dispositivos que amplificam os sinais acústicos do subsolo) está sendo radicalmente transformada pela digitalização.
Com sede em São Paulo, a brasileira Waterlog é uma das empresas que investiu no desenvolvimento de tecnologia própria para refinar os métodos acústicos. Criada há quatro anos pelo engenheiro químico Fernando Loureiro Pecoraro, na esteira da grave crise hídrica de 2014, a empresa desenvolveu o sistema Iris, uma solução que utiliza algoritmos para reconhecer os sinais sonoros característicos de uma ruptura na tubulação.
— O grande desafio não é produzir mais água, mas conseguir reduzir as perdas de forma rápida e eficiente. As redes são antigas, o trabalho de montagem é artesanal e há muita variação de pressão, solo e tráfego. É um sistema dinâmico, sujeito a estresses constantes. Isso faz com que as concessionárias tenham enorme dificuldade de encontrar vazamentos e, muitas vezes, só percebam o problema quando já se perdeu um volume muito grande de água.
Sistema Iris instalado ao lado do hidrômetro
Divulgação/Águas de Penha
O sistema Iris se baseia no conceito de Cidades Inteligentes e funciona através de um equipamento instalado no cavalete de entrada de água de algumas residências, ao lado do hidrômetro. A instalação é rápida e não demanda equipe especializada. Na prática, o equipamento coleta dados em tempo real sobre o consumo de água de cada imóvel, transmitindo as informações para um painel de controle conectado à internet.
— Tudo foi desenvolvido por nós aqui no Brasil, porque não existia nada parecido. Criamos desde os sensores de pressão, vibração e ruído até o sistema de comunicação e o gerenciamento de bateria. Esse equipamento precisa durar pelo menos cinco anos em campo, então tivemos que fazer toda a engenharia para garantir autonomia e resistência, além de confiabilidade na coleta de dados — explicou Fernando Loureiro.
O projeto está em fase de testes com diversas concessionárias pelo Brasil e já demonstrou resultados relevantes. Em um piloto realizado numa rede de 11 quilômetros, com cerca de mil ligações, foram detectados dez vazamentos. A estimativa da Waterlog é que a economia no período de dois meses foi de 30 mil metros cúbicos de água, o equivalente a aproximadamente 12 piscinas olímpicas.
— Esse era um local que já tinha poucos vazamentos, então imagine o potencial em áreas mais críticas. Os operadores privados estão entendendo que o ganho não é só ambiental, mas também econômico. Reduzir perdas melhora o resultado financeiro e garante longevidade para o negócio. Entramos numa fase mais propícia para a inovação, em que as empresas vão buscar soluções que realmente resolvam gargalos históricos do saneamento — finaliza Loureiro.
Tecnologia Iris está sendo testada em várias regiões do país
Divulgação/Águas de Penha
Outras tecnologias em campo
O combate às perdas também ganhou reforço com o sensoriamento remoto, uma abordagem não invasiva que literalmente tira o problema de debaixo da terra. A Sabesp, responsável pelo abastecimento de mais de 28 milhões de pessoas em São Paulo, firmou uma parceria para testar a tecnologia da israelense Asterra, já adotada em Curitiba e Joinville. A solução utiliza imagens de satélite e inteligência artificial.
Por meio da emissão de um feixe de onda que penetra até três metros de profundidade, a tecnologia identifica locais com presença de cloro, um indicativo claro de vazamento de água tratada. Segundo a empresa, o sistema é muito mais eficaz que os métodos convencionais: em 50 quilômetros de redes analisadas na Região Metropolitana, o sensoriamento remoto indicou 81 pontos de vazamento, enquanto as técnicas tradicionais haviam identificado apenas 14.
A plataforma, que permite o monitoramento e análise de toda a rede urbana de uma só vez, possibilita que as equipes de campo reparem até três vezes mais vazamentos. Isso só é possível graças a algoritmos patenteados e da IA que resolvem problema

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