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Peão atacado no Pantanal guarda presas de onça que ficaram cravadas na perna

10/10/2025 20:09 Campo Grande News - Política

Dentro de um pequeno pote, o pantaneiro Flávio Ricardo Espírito Santo, de 28 anos, guarda as presas da onça-pintada que ficaram cravadas em sua perna. Ele viu a morte de boca aberta no dia 4 de outubro, na Fazenda Milagres, uma das regiões mais isoladas do Pantanal sul-mato-grossense. “Guardo pra lembrar que Deus me deu uma segunda chance. Foi Deus, só Ele pra me tirar dali”, comenta. Dias depois, ainda internado na Santa Casa de Campo Grande, Flávio falou pela primeira vez sobre o que viveu. A entrevista foi feita pelo jornalista Paulo Cruz, que o conheceu em 2022, durante o projeto Alma Pantaneira, expedição que leva atendimento médico, odontológico e veterinário às comunidades isoladas do bioma. Ao lembrar do episódio, o peão contou que o dia parecia comum para quem vive do trabalho nas fazendas pantaneiras. Flávio e um companheiro voltavam a cavalo da rotina de campo quando viram urubus sobrevoando uma moita. “A gente sempre vai olhar, pra saber se é um cavalo ou uma vaca da fazenda. Quando cheguei perto, ela pulou na minha perna e me puxou de cima do cavalo”, contou. A onça o derrubou no chão e cravou as presas na perna. Flávio tentou se defender, enquanto o colega gritava e os cachorros latiam. “Ela é muito rápida; não dava tempo de reagir”, disse. O felino recuou e fugiu, e o peão, mesmo sangrando, conseguiu montar novamente e cavalgar por cerca de meia hora até a sede da fazenda. Com perda intensa de sangue, ele recebeu os primeiros socorros da esposa antes da chegada das equipes do Corpo de Bombeiros e do Exército Brasileiro, que usaram um helicóptero para o resgate. “Se demorasse mais, podia não ter dado tempo”, lembrou. O reencontro e a amizade A história ainda traz, em seu enredo, a curiosidade do sobrenome Espírito Santo e tem como cenário a Fazenda Milagres, reforça o jornalista Paulo Cruz. O repórter conheceu Flávio três anos antes, quando a expedição Alma Pantaneira passou pela fazenda onde ele mora. Na ocasião, o peão foi atendido por um dentista e levou sua cadelinha de estimação para consulta com os veterinários da equipe. “A expedição leva médicos, dentistas e veterinários que atendem famílias que vivem isoladas na maior planície alagável do planeta”, contou Paulo. “Naquela época, ele foi atendido e a gente acabou conversando, criou-se uma amizade.” Quando soube que o peão atacado por uma onça era o mesmo homem que havia conhecido na expedição, o jornalista voltou a procurá-lo. “Fiquei muito abalado. O Flávio é um pantaneiro raiz, um homem que merece todo o respeito. Quem mais preserva o Pantanal hoje é o próprio pantaneiro. Ele é um guerreiro, e disse que assim que melhorar, volta pra lida.” Flávio segue em recuperação na Santa Casa e diz que pretende voltar ao Pantanal assim que estiver completamente curado. O episódio, que poderia ter terminado em tragédia, se tornou parte da história de um homem simples que sobreviveu ao improvável e guarda, dentro de um potinho, a lembrança física do dia em que enfrentou uma onça e venceu.

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