
Milton Nascimento: sintomas de demência podem ser confundidos com 2 doenças
O anúncio de que o cantor Milton Nascimento foi diagnosticado com demência por Corpos de Lewy (DCL), no início deste mês, fez muita gente prestar atenção na doença, ainda pouco conhecida. Aos 82 anos, o artista, segundo seu filho Augusto Nascimento, já vinha apresentando sintomas como lapsos de memória, olhar fixo e perda do apetite desde o ano passado, mas a confirmação só veio em meados deste ano, depois de uma série de exames.Segundo Augusto, com o tempo, as alterações se agravaram. Milton tinha sido diagnosticado com Parkinson, em 2022, mesmo ano em que se despediu dos palcos em “A última sessão da música". Em maio passado, precisou ser internado para tratar uma desidratação, já causada pela doença.“Dali para frente, entramos em uma montanha-russa, e absolutamente tudo mudou de forma extremamente rápida: veio, então, o duro diagnóstico de demência”, escreveu Augusto em suas redes sociais, detalhando que o pai se comunica e se alimenta com dificuldade, e precisa de cuidados constantes.Nos comentários da postagem, muita gente agradeceu a ele por falar abertamente e com sinceridade sobre o assunto, ainda cercado pela desinformação e pelo preconceito. A família de Milton seguiu os exemplos das do ator americano Bruce Willis e do jornalista brasileiro Maurício Kubrusly - ambos portadores da demência frontotemporal – e cujas histórias foram tornadas públicas.Em entrevista ao A TARDE no mês passado, o geriatra baiano Adriano Gordilho, um dos grandes especialistas no assunto, afirmou que o estigma em torno da doença atrapalha a evolução do processo de diagnóstico, tratamento e reabilitação dos diferentes tipos de demência. Segundo doutor Gordilho, cerca de 1,6 milhão de brasileiros convivem com o problema, que deve se agravar com o envelhecimento da população.“Então, é importante estar atento, desde cedo, diante de algumas queixas como esquecimento, alterações de memória recente e alterações comportamentais”, disse o médico, acrescentando que pacientes, familiares e profissionais de saúde precisam aprofundar os conhecimentos sobre as demências.Múltiplos sintomasDe acordo com a Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) , a demência por Corpos de Lewy é a terceira forma mais comum das chamadas síndromes demenciais, atrás do Alzheimer e da demência vascular. Também não tem cura, mas a rapidez no diagnóstico e o uso de medicamentos adequados podem atenuar os sintomas e retardar as perdas cognitivas.Uma das dificuldades no diagnóstico, como explica o neurologista Matheus Gaspar, está no fato dela misturar sintomas comuns do Alzheimer (confusão mental, lentidão no raciocínio) e do Parkinson (tremores, dificuldades motoras).Segundo ele, diferentemente do paciente com Parkinson, quem tem Corpos de Lewy apresenta alterações cognitivas logo no início da doença, e também um quadro de alucinações. “Felizmente, os avanços tecnológicos têm nos permitido antecipar um pouco o diagnóstico”, afirma Matheus, que atua no Hospital São Rafael - Rede D'Or.Entre os exames, ele cita a ressonância magnética e o PET Scam cerebral, que vão medir, por exemplo, os níveis de dopamina no cérebro. Associados aos testes cognitivos (que avaliam a memória, linguagem e atenção), os exames vão especificar o tipo de demência e ajudar o especialista a definir o melhor tratamento.De acordo com Matheus, toda doença neurológica é resultado do acúmulo de proteínas “anormais” nas células cerebrais, os neurônios. Nesse caso, é a alfa-sinucleína, que se juntando até formar os Corpos de Lewy – nome em homenagem ao cientista alemão Frederic Lewy, que a descobriu.Atenção aos sinaisEmbora as causas das demências não sejam todas conhecidas, o neurologista alerta para alguns sinais que podem se manifestar de cinco a dez anos antes da doença em si: perda brusca de olfato, constipação sem causa aparente e sono muito agitado, com sonhos que parecem reais, gritos e sustos.“São sintomas que podem vir muito tempo antes da perda da memória e dos tremores e que, depois de afastadas outras possíveis causas, devem ser investigados”, informa Matheus, que é especialista em neurologia cognitiva e comportamental.De forma geral, a demência por Corpos de Lewy costuma aparecer entre os 65 e 70 anos e tem uma grande diferença de evolução de um paciente para outro.Segundo Matheus, é sempre difícil precisar esse tempo e, em alguns pacientes, os sintomas podem se agravar em menos de três anos, como o que está acontecendo com Milton Nascimento. “Mas, na maioria das vezes, eles já estavam lá há muito tempo”, pondera.RecomendaçõesEm relação ao tratamento, o médico esclarece que são basicamente os mesmos medicamentos utilizados para tratar o Alzheimer, além de drogas específicas para as alucinações.“Nós também recomendamos a prática de atividades físicas e as interações sociais, pois o isolamento e a reclusão são muito prejudiciais”, completa.Segundo um estudo recente, liderado por pesquisadores da Universidade de São Paulo, 60% dos casos de demência poderiam ser atribuídos a fatores mo
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