Logo
Tudo que você precisa saber sobre as eleições em um só lugar

Lula e Castro não se falam e acentuam distância na pauta de segurança

06/11/2025 06:30 O Globo - Rio/Política RJ

Mais de uma semana epois da operação que deixou 121 mortos no Alemão e na Penha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), ainda não conversaram. O episódio representa o momento mais agudo da dinâmica ruim entre os governos na segurança pública desde 2023 e engrossa o histórico de relações conturbadas entre presidentes e governadores do estado. A falta de sintonia também emperra o avanço de agendas legislativas, com cada lado defendendo pautas distintas, e de operações conjuntas de combate à violência.
Investigação: Moraes abre inquérito sobre crime organizado no Rio e cobra informações da PF
Na Bahia: governador petista diz que estado 'não é matador', mas defende 'pulso firme' contra o crime
Após reiteradas exaltações de Castro à operação e críticas ao governo federal, Lula fez na terça-feira a primeira declaração contundente contra a incursão ao chamá-la de “matança”. Conforme noticiou a colunista Malu Gaspar, do GLOBO, auxiliares tentavam nos últimos dias uma aproximação entre os dois para falar do tema fiscal, mas o comentário do presidente ceifou a possibilidade. Em público, o governador ainda não citou nominalmente o presidente, mas se vangloria a interlocutores de ter “jogado Lula na lona”, como noticiou o colunista Lauro Jardim.
Os anúncios das duas partes após a operação também foram lidos mais como movimentos políticos do que efetivos. Castro convidou outros governadores para o Palácio Guanabara e anunciou um “Consórcio da Paz”. Antes, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, tinha ido ao Rio e divulgado ao lado do governador a criação de um escritório integrado emergencial.
Crítica na Cidade de Deus
O primeiro ano deste mandato já tinha registrado rusgas entre o presidente e Castro por causa da segurança. Em evento na Zona Oeste do Rio, o governador se viu numa saia-justa quando o petista criticou operação da Polícia Militar que resultou na morte de um adolescente na Cidade de Deus. Dirigindo-se a Castro, Lula chamou o policial responsável pela ação de “despreparado” e disse que a polícia precisa saber diferenciar “o que é um bandido e o que é um pobre que anda na rua”.
O discurso de Lula se materializou dois anos depois, com a apresentação da PEC da Segurança — o objetivo é ampliar a atuação federal na área e incentivar a integração com os estados. A medida, contudo, foi criticada por Castro e outros governadores, que enxergam riscos de intromissão em prerrogativas estaduais, como o policiamento ostensivo. Agora, a divergência se dá também no debate sobre o projeto que equipara facções criminosas como CV e PCC a grupos terroristas: o Planalto é contra, e o governo do Rio, a favor.
Em outros momentos, como em entrevista ao GLOBO no início do ano, Castro criticou também o trabalho “muito ruim” do governo federal no controle de fronteiras. Além da segurança, pautas econômicas, sobretudo a renegociação da dívida do estado, colocaram os dois em colisão.
A despeito de ter agitado a política nacional, a desavença de Castro não tem como pano de fundo um dos traços mais marcantes da história recente do Rio: as pretensões presidenciais de governadores que levaram a rompimentos com presidentes. Leonel Brizola e Anthony Garotinho, por exemplo, foram candidatos ao Planalto depois de mandatos no Guanabara — em 1989 e 2002, respectivamente. No passado recente, foi a vez de Wilson Witzel dizer, logo no início da gestão, que gostaria de concorrer. A intenção não pegou nada bem no governo de Jair Bolsonaro, de quem virou inimigo.
Já o embate em torno da pauta de segurança é comum na relação entre os governos. Um dos raros alinhamentos se deu durante os governo Lula e Sérgio Cabral, que viabilizou o projeto de retomada do território dominado por facções, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
— Foi um momento único de alinhamento triplo (o prefeito era Eduardo Paes). Isso deu fôlego às políticas públicas do Rio, junto com o aumento do preço do petróleo. Mas, mesmo naquele período, a postura do governo federal na área de segurança foi de não se meter. O que fez foi dar dinheiro, recursos — afirma a historiadora Marly Motta, professora aposentada da FGV CPDOC.
Décadas de desavenças
Autora do livro “E agora, Rio? Um estado em busca de um autor”, Motta classifica como “vaivém” a relação entre governadores e presidentes. O histórico conturbado começou com Leonel Brizola e José Sarney, no início da Nova República. De lá para cá, houve breves momentos de boa convivência, como entre Marcello Alencar e Fernando Henrique Cardoso — que chegaram a fazer convênio para o combate à criminalidade —, mas também diversos embates.
Garotinho, no final da década de 1990, via o Guanabara como trampolim para a Presidência, em oposição ao PSDB de Fernando Henrique Cardoso. Terceiro colocado em 2002, apoiou Lula no segundo turno, mas rompeu com o PT. O governo de sua sucessora e esposa, Rosinha, marcou um afastamento total do petista.
— Teve um desentendimento com o PT n

Fonte original: abrir