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Em 215 anos de aterros, espelho d’água da Lagoa Rodrigo de Freitas encolheu pela metade; veja o que mudou com o tempo

17/10/2025 17:00 O Globo - Rio/Política RJ

Na Zona Sul, a Lagoa Rodrigo de Freitas segue firme e forte, cartão-postal queridinho de turistas e cariocas. Mas encolheu bem, quase a metade. Comparando a área de espelho d’água registrada em 1809 com a do ano passado são 46% a menos. Saiu de 4,1 para 2,2 quilômetros quadrados. A intensificação dos aterros ali se deu já no século 20 como mostra estudo elaborado pelo IPP tendo como base dados de 1928, 1942, 1975, 1999 e 2024.

Olhando para o desenho original da Lagoa sobreposto ao mapa atual verifica-se que boa parte da pista e um pedaço da sede do Jóquei Club do Brasil e a Praça Santos Dumont, a sede do Flamengo e o Selva de Pedra, e a Sociedade Hípica Brasileira estão em terrenos conquistados por meio de aterros.
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— Desde o início da ocupação, transformar o espaço é uma forma de adaptação e o aterro é uma dessas transformações. No caso do Rio, os estudos de monitoramento do uso do solo mostram várias funções diferentes para esses aterros ao longo do tempo — explica o geógrafo Leandro Souza, gerente de Cartografia do IPP — Se olharmos para a Zona Norte, no limite com a Baixada Fluminense, vemos uma série de aterros ao longo do século XX. Toda aquela área do Fundão, do Canal do Cunha, da Maré, parte do Mercado de São Sebastião, tudo isso foi aterrado em épocas diferentes, com finalidades também distintas.
Outra curiosidade envolve o Santuário da Igreja de Nossa Senhora da Penha, que começou a ser construída em 1635. No século 19, antes da chegada dos trens aos bairros, embarcações com romeiros partiam do Cais do Valongo, do Porto do Irajá, do Porto de Maria Angu, tendo como destino um ancoradouro na base do templo. Na região de Manguinhos, antes da abertura da Avenida Brasil, o mar chega bem próximo ao local onde fica a sede da Fundação Oswaldo Cruz. Quando o primeiro aterro surgiu foi criado um aeroporto no lugar. Hoje a área aterrada se estende quase o Canal do Cunha e integra parte do Complexo de Favelas da Maré abrigando, por exemplo, as vilas do João e dos Pinheiros.
Para o urbanista Washington Fajardo, a sucessão de aterros na história do Rio dão um testemunho positivo sobre como a cidade se organizou ao longo do tempo:
— Revelam uma gigantesca capacidade de imaginar, planejar e executar, sempre com atenção ao projeto. Sempre se fala muito dos holandeses como experts em engenharia de diques e controle do nível do mar, mas deveríamos também considerar que os cariocas já possuíram uma expertise ímpar e que estas obras se mantem íntegras.
Embora profundamente ligada à história da formação da cidade, a prática de realizar aterros para avançar e construir — sejam vias, habitações ou lindos parques como sessentão do Flamengo — foi sendo abandonada ao longo do tempo dadas as novas realidades climáticas e preocupações ambientais que emergiram com força nas últimas décadas.
— Aterrar hoje é uma medida extrema. Primeiro, porque agride o meio ambiente — manguezais, brejos, várzeas, ecossistemas que na época eram desprezados. Segundo, há riscos de engenharia: recalques e rachaduras em solos aterrados. Um exemplo é o trecho da Praia de Copacabana, próximo ao Posto 6, que até hoje sofre com ressacas e perda de areia — é a natureza retomando seu espaço — avalia Sydnei Menezes, o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio (CAU/RJ).

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