De vilão a solução: como o plástico pode se tornar amigo do meio ambiente
Plásticos de todos os tipos e tamanhos estão espalhados pelo chão, sobre as esteiras e empilhados em fardos. São sacolas de mercado, garrafas PET, sacos de encomendas e potes de manteiga ou margarina coloridos - verdes, transparentes, amarelos, azuis e vermelhos. A cena lembra bem a sujeira e a poluição comuns nas cidades, mas, na verdade, trata-se do interior de uma fábrica onde o que, literalmente, iria pelo ralo ganha nova vida. Logo na entrada, o que se vê são pacotes gigantes de garrafas vazias e amassadas, as mesmas que entopem bueiros e levam anos para se decompor. Mas ali o futuro delas é outro: em breve, vão se transformar em novos produtos, desde blusas, já que servem de fonte para fibras de poliéster, até garrafas, baldes e materiais para a construção civil. Em Mato Grosso do Sul, esse ainda não é o destino desse material, mas outros tipos de plástico ganham usos diversos e viram mangueiras, eletrodutos, sacos para resíduos e outras embalagens. “Esse material aqui vem daqueles galões de produtos de limpeza que a gente usa em casa, sabe? De sabão líquido, amaciante. Eles servem para fazer nossa mangueira corrugada, aquela usada como eletroduto”, explica Juliano Berton, sócio da Porto Plast, que há 20 anos investe em produtos plásticos sustentáveis. Nada aqui é jogado fora. A mangueira que deu errado, por exemplo, a gente tritura e ela volta como pó, um farelo de mangueira mesmo”, conta Juliano, com entusiasmo, ao explicar que na fábrica a reutilização chega a 100% da produção. Peças que deram errado ou sobras de cortes voltam ao processo de reciclagem e se transformam novamente em matéria-prima. Diante do aumento na produção, a empresa decidiu se aproximar ainda mais da origem do processo e criou uma estrutura voltada exclusivamente à reciclagem. A Porto Plast fabrica mangueiras e sacos de lixo comuns e hospitalares a partir dos chamados “grãos”, matéria-prima pronta para moldagem. Para produzir essa resina final, nasceu a Berpram há quase dez anos. As duas empresas ficam a apenas 800 metros de distância, ambas sob comando de Fabrício Berton, irmão de Juliano. Ele explica que o negócio surgiu de uma oportunidade ligada à sustentabilidade. “Nosso DNA é fabricar produtos plásticos com matéria-prima 100% reciclada. Naquele tempo (2016), já víamos o mercado buscando soluções sustentáveis”, afirma. Hoje, a Berpram fornece matéria-prima para empresas de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Santa Catarina e Paraná. Já a produção da Porto Plast é voltada exclusivamente ao mercado estadual, com parte do material feita sob medida, conforme a demanda de cada cliente. E na cadeia de reaproveitamento, até a água se recicla. Todo o processo de lavagem dos plásticos consome cerca de 30 mil litros por hora, e essa limpeza é essencial para garantir a qualidade do produto final: mais limpo e sem cheiro forte. Nesse processo, a água passa por uma estação de tratamento externa, recebe produtos químicos, é filtrada e, então, reutilizada. Ao longo dessa transformação, que envolve empenho, investimento e tecnologia, o plástico deixa de ser vilão e passa a ser tratado como recurso: um bem a ser reutilizado e não descartado como resíduo, assim define Fabrício. “Acreditamos que o plástico não é o fator de poluição, e sim a falta de incentivo público para reciclar esses materiais que são descartados incorretamente no meio ambiente.” Entre as medidas que poderiam mudar o cenário, Fabrício cita a redução de impostos para empresas de reciclagem, subsídios a catadores e leis que obrigassem o uso de matéria-prima reciclada na produção industrial. Messias Silva Nascimento, de 25 anos, funcionário da Berpram, concorda. “O vilão não é o plástico, é o ser humano”, diz, em vídeo, que pode ser conferido abaixo. Setor em crescimento - Mato Grosso do Sul tem hoje 59 indústrias de plástico, mas nem 10% delas incorporam práticas sustentáveis no processo produtivo. A grande maioria ainda depende do petróleo como principal insumo. De acordo com a Fiems (Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul), as principais barreiras para a reciclagem como meio de produção são a falta de infraestrutura, de tecnologia em larga escala e a dificuldade técnica para reaproveitar certos tipos de plástico. Mesmo assim, o setor avança. Emprega 2.257 pessoas, com média salarial de R$ 3,3 mil, segundo o Observatório da Indústria da própria Fiems. Em cinco anos, entre 2019 e 2024, o número de empregos cresceu 20%, passando de 1.881 para os 2.257 já citados. Dentro desse contexto, há 17 empresas que atuam exclusivamente com a reciclagem e empregam 146 pessoas, conforme o "Perfil 2025 - As Indústrias de Transformação e Reciclagem de Plástico no Brasil", material produzido pela Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico). Messias, encarregado do setor de triagem, trabalha na Berpram há seis anos. Começou como auxiliar de fábrica e acredita no futuro da reciclagem. “É uma área que muita gente abandona, acha que não tem impo
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