Conheça nova espécie de vespa descoberta durante estudo sobre Pampa e Mata Atlântica no RS
Vespa parasitóide, Messatoporus bisignatus, descoberta em pesquisa
Imagem cedida/ Henrique Negrello-Oliveira
Uma descoberta marcou uma pesquisa realizada nos morros de Porto Alegre: uma nova espécie de vespa parasitóide, batizada de Messatoporus bisignatus, foi identificada pela primeira vez.
🔍 Parasitóide = quando o inseto ataca os ninhos de outra espécie.
O inseto chama atenção por duas pequenas manchas amarelas nas pernas traseiras. Inclusive, o detalhe físico inspirou o nome, derivado do latim “bi” (dois) e “signatus” (sinal).
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Além da nova espécie, os pesquisadores também descreveram os primeiros machos de duas outras vespas parasitóides, antes conhecidas apenas pelas fêmeas.
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O estudo foi conduzido por Henrique Negrello-Oliveira, José Tovar-Marquez e Milton de Souza Mendonça Júnior, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da UFRGS. Os resultados foram publicados no periódico internacional Journal of Animal Ecology, em um artigo que ganhou destaque pela abordagem de analisar redes ecológicas complexas para entender como espécies interagem na borda entre dois biomas ameaçados: Mata Atlântica e Pampa.
"Fiquei alguns meses nesse processo para ter certeza que era algo inédito, e então enviei o material para o Espírito Santo para que nossos parceiros taxônomos batessem o martelo que de fato se tratava de algo novo, e por lá fizessem a descrição", explica o ecólogo Henrique Negrello-Oliveira.
Sobre a vespa
A descoberta da Messatoporus bisignatus revela como relações ecológicas complexas podem influenciar processos que afetam diretamente a vida humana. Por ser um parasitóide obrigatório, essa vespa depende dos ninhos de outra espécie predadora de aranhas para completar seu ciclo.
"Ao controlar a população dessas vespas predadoras de aranhas, as vespas parasitóides poderiam indiretamente estar beneficiando as aranhas, que por sua vez, poderiam vir a capturar mais desses insetos vetores. Esta é uma hipótese", explica Negrello-Oliveira.
A pesquisa ainda aponta que a presença dessa vespa indica um ecossistema funcional e equilibrado. Parasitoides são considerados indicadores de qualidade ambiental porque exigem recursos específicos e relações estáveis para sobreviver. A abundância da Messatoporus bisignatus nos morros de Porto Alegre sugere que, mesmo em áreas urbanas, as Unidades de Conservação mantêm processos ecológicos essenciais.
Além disso, compreender o papel dessa vespa ajuda a antecipar impactos da perda de habitat. Como ela depende de outra vespa predadora, qualquer alteração que reduza a população da espécie hospedeira pode levar à extinção da Messatoporus bisignatus.
O que a pesquisa revela
Os resultados confirmaram que a borda entre Mata Atlântica e Pampa atua como uma barreira ecológica, e não como um corredor de passagem. As espécies e suas interações permanecem restritas a cada habitat, mesmo em áreas muito próximas à transição.
"Queríamos descobrir se essa borda funciona como uma ponte, facilitando a passagem de espécies e interações entre os habitats, ou como uma barreira, limitando essas conexões", diz o ecólogo.
A segregação foi evidente nas redes de interação analisadas: as conexões entre predadores, presas e parasitóides praticamente não se repetem entre os dois ambientes.
Apesar dessa separação, a zona de contato apresentou um fenômeno curioso: maior abundância e riqueza de interações. Nas faixas próximas à borda, os pesquisadores registraram picos de atividade, com mais espécies e relações do que nas áreas interiores.
"A borda em si é o ambiente com maior riqueza de espécies e diversidade de interações, o que mostra que trata-se de uma ambiente único", explica o pesquisador.
Para mapear essas interações, os cientistas instalaram ninhos-armadilha e tubos de bambu, em diferentes pontos da borda. As vespas predadoras ocuparam os ninhos e os abasteceram com presas como aranhas e lagartas. Depois, surgiram as vespas parasitóides, que dependem desses ninhos para completar seu ciclo. A análise revelou redes complexas envolvendo três níveis: presa, predador e parasitóide.
Ninhos-armadilha e tubos de bambu instalados para pesquisa
Arquivo pessoal/ Henrique Negrello-Oliveira
Por que isso importa
A descoberta reforça o papel das Unidades de Conservação urbanas, como o Parque Natural Morro do Osso e o Refúgio de Vida Silvestre São Pedro, onde parte do estudo foi realizada:
“Nossos resultados mostram como, mesmo dentro de uma capital, Unidades de Conservação possuem um papel essencial na conservação da biodiversidade, contendo espécies ainda desconhecidas para a ciência”, destaca o ecólogo.
O trabalho também aponta a necessidade de estratégias para manter os fragmentos de Pampa, ameaçados pela expansão da floresta, fenômeno ligado ao aumento da temperatura e da umidade.
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