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Como conexões nas prisões federais ajudaram a tornar o CV nacional e reforçaram migração de criminosos para o Rio

19/10/2025 09:01 O Globo - Rio/Política RJ

Previstas na legislação desde 1984, as penitenciárias federais só começaram a virar realidade em 2006, quando foi inaugurada a unidade de Catanduvas, no Paraná. Na época, houve forte pressão para que as obras fossem concluídas com rapidez para que Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, pudesse ser transferido definitivamente — preso na Colômbia em 2001, ele havia trocado de prisão no Brasil mais de dez vezes ao longo de cinco anos. A ideia era que o então inimigo público número 1 ficasse isolado de tudo e de todos em uma unidade de segurança máxima. Mas o que aconteceu não foi bem assim.
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Diferentes processos e documentos apontam que o traficante se tornou um dos artífices do Comando Vermelho que, de dentro de presídios federais, recruta traficantes de todo o país para a nacionalização da facção, numa disputa com o Primeiro Comando da Capital (PCC). É uma estratégia que culmina num fenômeno cada vez mais perceptível nos territórios controlados pelo CV. Órgãos de segurança pública fluminenses já identificam a presença de criminosos de outros 12 estados em áreas sob domínio da facção no Rio, enquanto a facção se espalha por 25 estados e o Distrito Federal, como já mostrou levantamento do GLOBO.
— Hoje, o CV disputa o Brasil com o PCC. Em pouco tempo, não estaremos mais discutindo somente segurança pública, mas, sim, soberania nacional e quem manda no país — diz Carlos Antônio Luiz de Oliveira, subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Polícia Civil do Rio.
Revelações sobre Beira-Mar, apontado pela polícia como um articulador dentro do cárcere, reforçam como os presídios estão na gênese das migrações criminosas para o Rio. Mesmo há 18 anos no sistema penitenciário federal, ele continuava recebendo e enviando recados a outros criminosos. Em 2017, agentes da Polícia Federal encontraram bilhetes escritos por ele picados numa marmita. Dois anos antes, a polícia havia interceptado uma chamada telefônica em que um criminoso de Rondônia, preso no Centro de Ressocialização do Cone Sul, em Vilhena (RO), ensinava como enviar mensagens a Beira-Mar, detido em uma unidade federal a quase 800 quilômetros de distância, na capital Porto Velho.
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Na conversa, Luiz Carlos Bandeira Rodrigues, o Da Roça ou Zeus, explica por telefone: “Você faz o seguinte: elabora o informativo e lança no WhatsApp do Matemático. Eu vou encostar ali na cunhada para ver o dia em que pode mandar lá para dentro (do presídio). Vai passar do WhatsApp para o papel, do papel vai para a mão do advogado, e o advogado bate lá e entrega na mão do corre”.
Luiz Carlos Bandeira Rodrigues, o Da Roça ou Zeus, chegou ao Rio pouco tempo após deixar a Penitenciária Federal de Campo Grande
Reprodução
Em 2022, um documento da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen) — que reúne o histórico de informações e dados sobre o preso — registrou ainda que o chefe do Comando Vermelho (CV) fazia constantes tentativas de cooptar outros presos entre a massa carcerária. E indicou que Beira-Mar fazia negócios fora das prisões por meio de visitantes, advogados e outros detentos.
Chancela do alto escalão
Da Roça ou Zeus, por exemplo, teve chancela de Beira-Mar ao chegar ao Rio, pouco tempo após deixar a Penitenciária Federal de Campo Grande. Nascido no Ceará, ele fez fama no crime em Rondônia e, atualmente, desempenha papel direto na briga do CV com a milícia da Zona Sudoeste carioca. Segundo a Polícia Civil, o traficante ganhou força no CV ao tomar a Muzema, no Itanhangá. Como reconhecimento, ele virou chefe do tráfico na comunidade.
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Reprodução
Tudo isso ocorreu sem contestações locais, uma vez ele era amigo de Beira-Mar. Os dois, como apontam autoridades, estreitaram laços no sistema penal federal — o histórico prisional de ambos mostra que eles estiveram, de 2019 a 2021, presos em Campo Grande.
— Ele já chegou ao Rio com a chancela do apadrinhamento de Beira-Mar, mas, quando ajudou a facção a dominar a região da Muzema, conquistou de vez o respeito da chefia local — afirmou fonte na polícia sob condição de anonimato.
Nesse e em outros casos que se multiplicam, a migração de bandidos para o Rio é um sistema de “ganha-ganha”: de um lado, os criminosos de fora que chegam a comunidades como a da Rocinha e as do Complexo do Alemão e conquistam proteção, status e novos conhecimentos na cidade; do outro, a facção amplia franquias Brasil afora, incluindo poderio sobre rotas de escoamento de armas e drogas.
— Hoje está muito comum falar de trabalho híbrido ou remoto. O crime faz o mesmo. Eles entenderam q

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