Brasil tem 391 etnias indígenas declaradas, e SP é o estado mais diverso, aponta Censo 2022
O Brasil reúne 391 etnias declaradas por indígenas, apontam dados do Censo Demográfico 2022 divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira. O novo levantamento identificou 90 outros grupos étnicos que não constavam do anterior, de 2010. O estado de São Paulo apresenta a maior diversidade étnica do país, com a presença de 271 das etnias, à frente de Amazonas (259) e Bahia (233). O menos diverso, o Amapá foi o único estado da federação a apresentar recuo na última década — hoje há por lá 52 grupos, contra anteriores 55.
De 2010 a 2022, processos de migração, afirmação étnica e melhorias na captação de dados, entre outros fatores, levaram à atualização da lista de povos residentes no país: 25 etnias foram desagregadas em relação ao Censo passado; outras oito que apareciam como outras etnias das Américas foram individualizadas desta vez; e uma foi inserida para agregar dois grupos antes isolados. Além disso, 73 etnônimos foram classificados como etnias em 2022.
Já dentro das terras indígenas oficialmente reconhecidas, foram identificadas 335 etnias, contra 250 do levantamento anterior. Considerando apenas esses territórios, a diversidade é maior no Amazonas (95), no Pará (88) e no Mato Grosso (79).
Os dados do Censo apontam grandes centros do país como as cidades em que há mais grupos diferentes de indígenas. São Paulo registrou 194 delas; Manaus, 186; e Rio de Janeiro, 176; por exemplo. Brasília (167) e Salvador (142) fecham o top 5. Fora das capitais, a diversidade se destaca em Campinas (SP), com 96 etnias; Santarém (PA), com 87; e Iranduba (AM), com 77.
— Nos municípios, vê-se a concentração [de etnias] nos estados da Amazônia Legal, com destaque para a região do Rio Negro, o Sudoeste do Pará, o interior entre Bahia e Pernambuco e municípios litorâneos do Sudeste. Você repara que as maiores concentrações estão em capitais, cidades de centralidade significativa em relação à atração de população indígena, tanto para o acesso a serviços, quanto para provimento de necessidades e trabalho. Os municípios fora das capitais são Campinas, onde você tem a presença de uma universidade com processo diferenciado de admissão de indígenas, e Santarém, centro regional importante no Pará — destaca Fernando Damasco, gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas do IBGE.
Em 2022, o número de indígenas residentes no Brasil foi de 1.693.535 pessoas, o que representava 0,83% da população total do país. Em 2010, o IBGE contou 896.917 mil indígenas, ou 0,47% do total de residentes no território nacional. Isso significa que esse contingente teve uma ampliação de 88,82% desde o Censo Demográfico anterior. Esses dados totais, divulgados em maio, apontaram que mais da metade dos indígenas (56,1%) têm até 29 anos de idade. E mais da metade reside em áreas urbanas — salto de 36,2% em 2010 para 54% em 2022.
Com o incremento de quase 90% da população indígena em uma década, cresceu a expectativa sobre como esses "novos integrantes" se posicionariam em relação à declaração de etnia. No Censo 2022, o recenseador podia registrar até duas etnias para este quesito, caso os informantes declarassem mais de uma.
Os dados mostram que a proporção de indígenas que declarou ao menos uma etnia pouco variou: foi de 75,41% a 74,51%. Mas, com o salto nos números absolutos, os analistas concluem pelo avanço na declaração do pertencimento étnico. Nas terras indígenas, esse status de declaração passou de 89,5% à quase totalidade, 99,76%.
Etnias mais populosas
A etnia Tikúna é a maior do país, com pouco mais de 74 mil integrantes — 71% deles residentes em Terras Indígenas. Eles se concentram no Amazonas (73,5 mil), em cidades como Tabatinga e Atalaia do Norte, em geral acompanhando calhas do Rio Solimões. Também estão presentes na capital do estado, o que, para Damasco, indica o fluxo permanente entre localizações originárias e tradicionais com os grandes centros, dadas as necessidades de acesso a serviços e políticas públicas disponíveis em municípios maiores.
Pelos dados do Censo 2022, a idade mediana do povo Tikúna passou de 17 anos, em 2010, para 19, em 2022. A pirâmide etária do grupo aponta uma ligeira queda na fecundidade — ou seja, embora seja jovem, seu crescimento populacional tende a desacelerar nos próximos anos.
A segunda maior etnia identificada pelo Censo foi a Kokama, cujo salto populacional em uma década chamou a atenção dos especialistas. De cerca de 11 mil, o grupo superou os 64 mil integrantes em 2022 — fruto de esforços comunitários de autoafirmação e melhorias metodológicas na captação do fenômeno étnico, destaca Fernando Damasco. A maior parte deles (67,65%) vive em situação urbana. Em geral, os Kokama se situam sobretudo no alto e médio Solimões, em municípios do estado de Amazonas. A idade mediana das pessoas passou de 15 para 20 anos, sem grande decréscimo da taxa de fecundidade.
Já os Makuxí são a terceira etnia mais populosa, com 53,4 mil pessoas — a maior parte delas (68,31%) é residente em terras indígenas, com destaque par
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