Logo
Tudo que você precisa saber sobre as eleições em um só lugar

Após megaoperação com dezenas de mortes, governos federal e do Rio trocam acusações

28/10/2025 19:08 G1 - Política

Valdo Cruz: 'Castro liga para Gleisi e diz que não teve intenção de criticar Lula'
Uma megaoperação policial no Rio de Janeiro com pelo menos 64 mortos, entre eles quatro policiais, e 81 presos, provocou nesta terça-feira (28) uma troca de acusações públicas entre o governo federal e o governo fluminense sobre a responsabilidade pelas ações de segurança no estado.
A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, afirmou em uma rede social que a tragédia demonstra a necessidade de coordenação nacional entre forças de segurança e criticou operações “decididas isoladamente por governos locais”.
“Os violentos episódios desta terça-feira no Rio, com dezenas de mortes, inclusive de policiais, bloqueio de rodovias e ameaças à população, ressaltam a urgência do debate e aprovação da PEC da Segurança Pública no Congresso Nacional. (...) É isso que o governo do presidente @LulaOficial propõe: uma grande articulação com os governos estaduais, em que somente o crime sairá perdendo”, escreveu Gleisi.
A ministra citou ainda a importância de ações de inteligência, inclusive financeira, antes de operações policiais, e disse que o modelo previsto na PEC da Segurança Pública reforça o papel da União no planejamento e no apoio técnico e logístico aos estados.
Castro diz que Rio 'estava sozinho'
Mais cedo, o governador Cláudio Castro (PL) havia declarado que o governo federal negou pedidos de ajuda para operações no estado e que as forças locais “atuaram sozinhas” na ação desta terça-feira contra o Comando Vermelho (CV) nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte da capital.
“Tivemos pedidos negados três vezes: para emprestar o blindado, tinha que ter GLO, e o presidente [Lula] é contra a GLO. Cada dia uma razão para não estar colaborando”, disse Castro, em entrevista.
Segundo o governador, o estado solicitou o empréstimo de blindados das Forças Armadas, mas o pedido foi negado por falta de uma Operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) — mecanismo que só pode ser decretado pelo presidente da República.
Depois das declarações, Castro ligou para Gleisi Hoffmann para dizer que não teve a intenção de criticar Lula. De acordo com o relato de interlocutores, ele afirmou que não houve pedido formal de GLO, e que compreende que sem essa solicitação o uso dos blindados não seria possível.
Governo Lula rebate e fala em “tentativa de transferir responsabilidade”
O Ministério da Justiça reagiu às declarações do governador e disse que atendeu a todos os 11 pedidos de renovação de apoio federal feitos pelo Rio de Janeiro desde 2023, incluindo a presença da Força Nacional de Segurança, que segue no estado com autorização válida até dezembro de 2025.
Em nota, a pasta destacou o “compromisso com o estado do Rio de Janeiro” e defendeu as ações coordenadas entre União e estados para fortalecer o combate ao crime organizado e reduzir os índices de violência.
Nos bastidores, assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliaram que Castro tentou transferir sua responsabilidade para Brasília. Segundo auxiliares, o governo federal não foi informado previamente sobre a operação, que envolveu 2,5 mil agentes e se tornou a mais letal da história do estado.
“O desencadeamento de uma operação de GLO implica o reconhecimento formal da falência dos órgãos de segurança locais pelo próprio governador — o que não ocorreu”, afirmou um assessor do Planalto.
A operação
Batizada de Operação Contenção, a ação visava cumprir 100 mandados de prisão contra integrantes do Comando Vermelho. Durante o confronto, criminosos lançaram bombas com drones, incendiaram barricadas e bloquearam vias importantes, como a Linha Amarela e a Grajaú-Jacarepaguá.
A operação, segundo o governo fluminense, foi planejada com antecedência e não contou com apoio da União. “São aproximadamente nove milhões de metros quadrados de desordem no Rio de Janeiro. Lamentamos as pessoas feridas, mas essa é uma ação necessária e planejada”, disse o secretário de Segurança, Victor Santos.
Escolas e serviços fechados
Devido aos confrontos, 45 escolas municipais e estaduais não abriram e 12 linhas de ônibus precisaram ser desviadas. Três civis ficaram feridos por balas perdidas.
Entre os mortos estão os policiais Marcus Vinícius Cardoso de Carvalho, Rodrigo Velloso Cabral, Cleiton Searafim Gonçalves e Herbert, dois deles do Bope.
PEC da Segurança
A proposta defendida por Gleisi e pelo governo Lula pretende institucionalizar a cooperação entre União, estados e municípios, ampliando o uso de inteligência integrada e tecnologia nas ações de segurança.
Para o Planalto, a repercussão da operação no Rio reforça a necessidade de aprovar o texto no Congresso e criar uma coordenação nacional permanente para o combate ao crime organizado — evitando, nas palavras de Gleisi, “operações isoladas e improvisadas que aumentam o risco de tragédias como a desta terça-feira.”

Fonte original: abrir