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Após mais de um ano de combates, Rússia se diz perto de tomar Pokrovsk, cidade estratégica no leste da Ucrânia

07/11/2025 03:01 O Globo - Rio/Política RJ

O Ministério da Defesa da Rússia anunciou na quinta-feira avanços na cidade ucraniana de Pokrovsk, alvo de uma intensa ofensiva iniciada no ano passado, e cuja conquista é crucial para os planos do Kremlin para dominar todo o leste da Ucrânia. Os relatos de Moscou são corroborados por analistas independentes, que ainda questionam os impactos da queda de Pokrovsk na guerra iniciada em 2022. A operação coincide com o momento de “pressa” do presidente Vladimir Putin para conquistar novos territórios em meio à pressão internacional para retornar à mesa de negociações.
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Segundo o ministério, os combates são “de casa em casa”, e suas tropas capturaram 64 casas na cidade, que antes da guerra era lar de 60 mil pessoas, mas que hoje abriga menos de 1,3 mil. Uma das estratégias usadas na ofensiva atual foi concentrar ataques aéreos contra unidades que operam drones — uma das grandes armas de Kiev —, impedindo que atuassem para conter as tropas russas. Duas pontes usadas pelos ucranianos como linhas de transporte de suprimentos também foram destruídas.
“Infelizmente, tudo está triste na direção de Pokrovsk”, escreveu uma unidade ucraniana de drones que se autodenomina Peaky Blinders no aplicativo Telegram. “A intensidade dos movimentos é tão grande que os operadores de drones simplesmente não têm tempo de içar o [drone] para fora da água.”
Também foram usadas o que o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW) chamou de “inovações técnicas” para quebrar as linhas de defesa.
“Drones com visão em primeira pessoa e alcance ampliado, ogivas termobáricas e drones ‘adormecidos’ ou ‘de espera’ ao longo das linhas de comunicação terrestres, permitiram que as forças russas restringissem os movimentos, evacuações e logística das tropas ucranianas”, afirmou o ISW.
De acordo com o grupo DeepState, ligado ao Exército ucraniano e que acompanha as movimentações no campo de batalha, as forças russas já controlam várias partes de Pokrovsk, incluindo em regiões do centro, afirmando que a cidade “está sendo gradualmente absorvida”.
“A situação continua crítica”, completou o grupo em uma publicação.
Pokrovsk foi amplamente devastada pelos combates
Roman Pilipey/AFP
Dentro do objetivo do presidente russo, Vladimir Putin, de conquistar a região do Donbass, que engloba o leste ucraniano, Pokrovsk desempenha papel crucial. Localizada em um entroncamento ferroviário e rodoviário, sua queda abre caminho para a conquista de uma outra cidade, Myrnohrad, e permite que os esforços se voltem ao chamado “cinturão-fortaleza”, criado antes do início da invasão de 2022 em Drujkivka, Kramatorsk e Slovyansk, onde os combates devem ser até mais intensos.
"Se Pokrovsk cair, Myrnohrad também cairá, e o cerco se fechará", disse Michael Kofman, pesquisador sênior ddo Fundo Carnegie pela Paz Internacional, na rede social X. "A cidade tem valor operacional. Sua perda amplia o eixo de avanço russo em Donetsk a oeste do aglomerado de cidades de Kramatorsk, mas não torna essas cidades vulneráveis ​​a uma tomada rápida."
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Apesar de reconhecer as dificuldades no terreno, a Ucrânia afirma que tem meios e disposição para resistir. Na terça-feira, o presidente Volodymyr Zelensky esteve em uma região próxima, onde se encontrou com soldados e afirmou que “em Pokrovsk, continuamos a destruir o ocupante”.
— Quero agradecer a cada soldado, a cada unidade envolvida aqui e em outras áreas da frente de batalha. Premiei os melhores soldados hoje, aqueles que provaram seu valor em combate — afirmou Zelensky.
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Em outubro, o serviço de inteligência militar ucraniano anunciou que, em outubro, 1,5 mil militares russos foram mortos nos arredores de Pokrovsk, mas que o número de baixas seria “ainda maior”. Moscou não comenta sobre estimativas de mortos e feridos em combates, mas dados independentes e de governos ocidentais colocam esse número em torno de um milhão desde o início do conflito.
Caso a Rússia conquiste Pokrovsk, será a primeira grande vitória desde as quedas de Bakhmut, em 2023, e Adviivka, em 2024, duas batalhas no leste ucraniano e que também cobraram um elevado custo humano e em equipamentos. Para Putin, um sucesso crucial em um momento de dificuldades fora do campo de batalha.
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A pressão vinda de Washington para que ele aceite se sentar à mesa e negociar um acordo para o fim do conflito começou a sair do campo das palavras no mês passado, quando os Estados Unidos anunciaram sanções contra as duas maiores petrolíferas da Rússia, atingindo a principal fonte de dinheiro do país para manter a máquina de guerra.

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