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A ótima 'Caçador de marajás', do Globoplay, uma série para maratonar

09/11/2025 10:01 O Globo - Rio/Política RJ

A série “Caçador de marajás” narra a trajetória de Fernando Collor de Mello com foco no fim dos anos 1980 até o impeachment, em 1992. Sua escalada na política — e depois a derrocada, igualmente fulminante — é cheia de guinadas. Houve jogadas de marketing e armações de todo tipo, drogas, dólares e tramas familiares de dar inveja aos mais imaginativos autores de novelas. Com roteiro e direção de Charly Braun, a produção está no Globoplay. Ela faz uma combinação de todos esses ingredientes saborosos. São sete episódios. Recomendo.
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Quem viveu tudo aquilo constatará um real esforço do roteiro em ser fiel aos fatos. É História recente, e ela ainda está respirando pertinho desse espectador. A maratona, irresistível, trará de volta as memórias daqueles tempos, mostrando como muitos daqueles personagens continuam ativos na política brasileira. Quem não era nascido tem muito o que aprender. Entre as lições, há duas especialmente eloquentes (e incongruentes entre si). A primeira é que o Brasil mudou para melhor. A outra é que ele não mudou tanto assim.
Em vez de um narrador, a série é levada por entrevistas e arquivo. Ela desvia assim dos didatismos baratos sem deixar de expor com clareza o que pretende. Essas boas escolhas só contrastam com o docudrama, um recurso pobre e artificial, mas, felizmente, usado com parcimônia.
Thereza Collor
Divulgação
Os testemunhos são de jornalistas, de políticos, de economistas, de figuras do círculo íntimo etc. O grande trunfo é a presença de Thereza Collor. A viúva de Pedro teve um papel central no rompimento dos irmãos. Com franqueza, mas elegante sobriedade, ela não evita as perguntas desconfortáveis. O roteiro vai seguindo uma linha cronológica. Mergulha na história familiar de Collor, e assim explica a fortuna e a conexão com Alagoas e com o Rio. Mostra imagens da infância e da juventude, do primeiro casamento, com Lilibeth Monteiro de Carvalho, da segunda mulher, Rosane, e dos primórdios na política. Há registros da campanha e Claudia Raia e Alexandre Frota, grandes apoiadores da candidatura, aparecem bastante.
Claudia Raia e Alexandre Frota do documentário "Caçador de marajás" da época em que tiveram um relacionamento
Reprodução/Globoplay
No terceiro episódio, a série volta a 1989. Os preços subiam ao longo do dia. A figura do “etiquetador” foi naturalizada nos supermercados. Ele circulava com um aparelhinho que fazia o som de um estalo. José Sarney estava desmoralizado. Foi nesse ambiente de caos econômico que Collor, ex-prefeito de Maceió e ex-governador de Alagoas, despontou no cenário político nacional e disparou na corrida eleitoral vendendo a imagem de “caçador de marajás”, com a complacência da imprensa (a mesma imprensa que anos depois revelaria os seus podres, levando-o ao impeachment). Collor passou de candidato nanico a presidente. Mônica Waldvogel, que fala muito bem e está em quase todos os episódios, relembra: “Só quem viveu aquilo sabe como o Brasil já foi bagunçado”. Essa poderia ser a frase-guia da série (e ela fica ressoando depois para o espectador).

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