Sintonia Restrita e Sintonia Final: entenda as células do PCC ligadas a operações recentes contra a facção
Em duas operações contra o Primeiro Comando da Capital (PCC) nesta semana, dois termos citados pelas investigações da Polícia Civil de São Paulo revelaram parte da organização interna da maior facção criminosa do país. A “Sintonia Restrita”, responsável pelos atentados contra autoridades, e a “Sintonia Final”, que funciona como um departamento de "Recursos Humanos" do crime.
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A operação desta sexta-feira se conecta a um longo histórico de ameaças a agentes públicos que investigam a facção. O promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público (MP-SP), acredita que a ordem para matar o ex-delegado-geral Ruy Ferraz Fontes, assassinado em setembro na Praia Grande, é a mesma que visava ele próprio e Roberto Medina, diretor dos presídios da Região Oeste do estado.
As investigações indicaram que Medina e Gakiya tiveram suas rotinas monitoradas pelos criminosos, um modus operandi que remete diretamente à célula denominada “Sintonia Restrita”. Esse é o setor do PCC encarregado de cometer atentados contra policiais, autoridades do Judiciário, do Ministério Público e do sistema penitenciário, além de planejar resgates.
Segundo Gakiya, o modo de operação é idêntico ao plano que mirava o ex-ministro da Justiça e atual senador Sérgio Moro, que acabou impedido pela Polícia Federal (PF). "É exatamente o mesmo modus operandi, com filmagens de local de trabalho, de residência, de rotina", explicou o promotor, destacando que essa célula dificilmente se comunica por telefone, priorizando encontros pessoais.
Os integrantes da Sintonia Restrita mantêm contato direto com a cúpula do PCC e operam sob um rígido esquema de compartimentação. Nessa tática, cada membro tem uma função específica sem conhecer a totalidade do plano, o que dificulta a detecção e o desmantelamento das tramas, conforme descreve o MP-SP.
Autoridades como Ruy Ferraz Fontes, que foi jurado de morte desde 2019 após transferir lideranças da facção para o sistema penitenciário federal, são alvos prioritários por sua atuação no combate ao crime organizado.
Sintonia Final do Resumo
Além da célula de execução, o PCC mantém a Sintonia Final do Resumo, um setor interno que, na avaliação de investigadores, funciona como o "Recursos Humanos (RH)" da facção. O Sintonia Restrita responde apenas à Sintonia Final, liderada por Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola.
A rotina desse departamento foi desvendada a partir de mensagens apreendidas, incluindo o celular do traficante Michael Silva, o "Neymar do PCC", um dos responsáveis por transmitir recados da cúpula. A Sintonia Final atua, sobretudo, na manutenção da ordem, hierarquia e controle da quadrilha.
Imagens mostram trocas de mensagens
Reprodução
As responsabilidades desse setor são amplas. Ele cuida do cadastro dos membros, o que inclui o "protocolo de retorno" para criminosos perdoados, além de emitir orientações sobre posicionamentos eleitorais e definir regras estritas para o mercado de drogas, advertindo até contra irregularidades como a venda via delivery em áreas já dominadas por bocas de fumo.
A Sintonia Final também aplica um "tribunal" sobre a conduta dos filiados e emite ameaças a quem "entra em conflito com os interesses do PCC", como comerciantes e moradores, em uma tentativa de manter a disciplina e o domínio territorial.
Além de questões internas, a Sintonia Final também atua na expansão do PCC a outros estados, como o Rio de Janeiro, e financia o custo dessas "filiais". Em uma das mensagens apreendidas, um comparsa informa o chefe que está no Complexo da Maré e, após ser orientado a conversar com "a final", encerra o diálogo com a frase: "Bora revolucionar o Rio".
Histórico do PCC
Ações de grande repercussão e execuções, como as que eram planejadas no caso, são recorrentes ao longo da história do PCC, lembra o jornalista e pesquisador da área de segurança pública Bruno Paes Manso. Outros exemplos são a morte do juiz Machado Dias, em 2003, os ataques na cidade de São Paulo em 2006, as mortes de agentes penitenciários em 2017 e outros episódios de demonstração de força.
— Percebe-se que tem uns momentos mais de tensão que, às vezes, eles atacam. Agora, eles são sobretudo uma facção que pensa em ganhar dinheiro. Então, eles sabem também que tudo isso é sinônimo de prejuízo — diz Manso.
Apesar de as execuções não serem novidade, a operação desta sexta revelou uma maior sofisticação da facção no planejamento desse tipo de ação, analisa Luis Sapori, especialista em segurança pública da PUC-Minas.
— O que é de novo e mais preocupante é o perfil das autoridades que eram o principal alvo. A importância do Gakiya, do Medina, revela uma maior audácia da organização, um empoderamento bélico e a disposição de efetivamente eliminar autor
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