Luzes, câmera, veneno: novo estudo traz imagens do que acontece quando uma cobra ataca; vídeo
Cobras venenosas vivem em um mundo perceptivo diferente do nosso. “Antes mesmo que o mamífero tenha a chance de detectá-los e começar a se mover, eles estão em cima de você”, disse Alistair Evans, zoólogo da Universidade Monash, na Austrália.
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Em uma corrida de reflexos, a cobra geralmente vence. Para um camundongo ou humano, leva menos de meio segundo para registrar uma ameaça e reagir. Mas as cobras venenosas conseguem se lançar e morder suas presas em uma fração desse tempo. "É ridiculamente rápido", afirmou Dr. Evans.
Tão veloz que tem sido difícil até mesmo visualizar. Em estudo publicado nesta quinta-feira (23) no Journal of Experimental Biology, Evans e colegas usaram câmeras de vídeo de alta velocidade para registrar e reconstruir os movimentos complexos de 36 espécies de cobras venenosas. O resultado revela, de forma impressionante, as diferentes estratégias que esses animais usam para cravar suas presas.
Assista:
Cobras venenosas atacam em frações de segundo e revelam estratégias surpreendentes
Cobras em ação: métodos e precisão
Para realizar o estudo, Dr. Evans precisou da colaboração de cobras. Contatou Anthony Herrel, biólogo evolucionista do Museu Nacional de História Natural de Paris, que trabalha com a VenomWorld, empresa francesa que produz veneno usado na fabricação de antídotos.
Herrel filmou os animais a 1.000 quadros por segundo, junto à equipe do VenomWorld e Silke Cleuren, então pós-graduanda da Monash. Sob rigorosos protocolos de segurança, colocaram um cilindro de gel balístico – aquecido para simular a temperatura corporal dos mamíferos – na ponta de uma vara longa, apresentando-o a cobras de três famílias.
Os ataques muitas vezes falhavam, mas quando bem-sucedidos eram impressionantes. As víboras, predadoras de emboscada, permanecem encolhidas até que a presa se aproxime. Então, explodem de vida, acelerando a cabeça com velocidade surpreendente. Em um vídeo da víbora de nariz afiado, “em dezenas de milissegundos, ela abre a boca e, bum, as presas são inseridas”, contou Herrel. Após injetar o veneno, a cobra soltava o cilindro.
Na natureza, a técnica de morder e soltar permite que a cobra injete veneno e recue caso a presa reaja. Mesmo se fugir, o veneno a alcançará, e a cobra poderá segui-la pelo rastro com a língua, garantindo sua alimentação. Pesquisadores também observaram víboras ajustando suas mordidas, movendo os dentes para obter inserção mais profunda. Herrel sugeriu que esses comportamentos podem inspirar o design de roupas de proteção, mas lembrou que, quando não provocadas, “elas não são tão perigosas assim”.
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Variedade de ataques entre famílias
Em outro vídeo, uma víbora de focinho achatado quebrou sua presa direita ao tocar o gel, fazendo o dente voar em espiral. "Isso nunca havia sido filmado antes", disse Evans. (As cobras, porém, substituem suas presas.)
Os elapídeos – incluindo najas, mambas e taipans – atacavam de forma diferente: aproximavam-se, mordiam mais lentamente e apertavam repetidamente as mandíbulas, injetando veneno a cada contração.
Por fim, os colubrídeos, cujas presas ficam na parte posterior da boca, arranhavam o gel com os dentes, dilacerando a vítima para que o veneno fluísse pelas feridas abertas.
“É um conjunto de dados impressionante, porque os animais, notoriamente, não fazem exatamente o que você espera”, disse Jessica L. Tingle, bióloga integrativa da Universidade Brown, que não participou do estudo. Ela alerta, porém, que a maioria das cobras analisadas eram víboras, recomendando cautela ao generalizar os resultados para grupos como pítons e jiboias.
Herrel ressaltou a diversidade comportamental das cobras. “Costumávamos pensar que esses ataques eram estereotipados, como pequenos robôs repetindo sempre a mesma ação. Os vídeos mostram o oposto: esses animais são muito mais flexíveis do que se imagina.”
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