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O rio Itapecuru pede socorro, e a ciência confirma o alerta

30/10/2025 22:22 Imirante - Política

<p>O grito de socorro do Itapecuru não é metáfora. Trata-se de uma constatação científica. Estudos recentes realizados na bacia confirmam aquilo que as populações ribeirinhas já sentem há décadas: o rio está adoecendo, perdendo vazão, qualidade e vitalidade.</p><p>A tese Planejamento Ambiental Integrado (Soares, 2016) e diversos artigos científicos publicados em revistas nacionais apontam que o Itapecuru enfrenta graves processos de erosão, desmatamento de matas ciliares e poluição difusa. No baixo curso, especialmente nas regiões de Rosário, Bacabeira e Santa Rita, onde está localizada a captação do sistema Italuís, o uso desordenado do solo provocou assoreamento, alteração da paisagem e degradação da água. Durante o período seco, o leito do rio expõe o colapso de uma bacia que perdeu sua capacidade natural de regular o fluxo hídrico.</p><p>A água que chega ao sistema de abastecimento já percorre um caminho comprometido. Estudos sobre qualidade da água realizados por Soares e colaboradores entre 2012 e 2015 revelaram altos níveis de coliformes termotolerantes, fósforo total e turbidez. Esses parâmetros indicam o lançamento direto de esgoto urbano e o carreamento de sedimentos das encostas. O Índice de Qualidade da Água (IQA) varia entre “regular” e “ruim” no trecho final do rio, justamente onde se realiza a captação para o abastecimento público de São Luís.</p><p>Além da poluição, o assoreamento é uma das maiores ameaças. Pesquisas publicadas na Revista Brasileira de Geografia Física (Soares et al., 2017) apontam perdas de até 500 toneladas de solo por hectare ao ano nas sub-bacias do baixo curso, resultado da retirada da vegetação nativa e da substituição do cerrado por pastagens e monocultivos. Cada hectare degradado representa mais sedimentos depositados no leito do rio, diminuindo sua profundidade e reduzindo a capacidade de armazenamento de água.</p><p>O Levantamento da Geodiversidade do Maranhão (CPRM, 2013) já alertava que os solos da bacia são naturalmente frágeis, com baixa coesão e alta permeabilidade. Essa condição, combinada à falta de planejamento territorial, favorece o avanço da erosão e a contaminação das águas subterrâneas. O crescimento desordenado das cidades, a abertura de estradas e a instalação de empreendimentos intensificaram ainda mais essa vulnerabilidade.</p><p>O Zoneamento Ecológico-Econômico do Maranhão (IMESC, 2019) reforça o diagnóstico. Segundo o estudo, há uma tendência de redução da vazão dos rios maranhenses, e o Itapecuru está entre os mais afetados. A combinação de longos períodos de estiagem, desmatamento e captações irregulares ameaça o equilíbrio hídrico e compromete o abastecimento de dezenas de municípios.</p><p>A obra Mais Itapecuru já havia previsto esse cenário ao reunir dados e diagnósticos sobre as principais ameaças à bacia. O estudo mostrou que o problema não se resume à escassez de água, mas também à ruptura do ciclo hidrológico natural, provocada pela perda das matas ciliares e pelo uso inadequado do solo. O resultado é um rio que sofre com secas severas no período de estiagem e com cheias violentas nas chuvas seguintes.</p><p>Logo chegará a chuva, e os sintomas serão mascarados por um falso novo período de cheia. O rio voltará a transbordar, mas não por saúde, e sim por desordem. As enchentes, cada vez mais imprevisíveis, tendem a afetar populações ribeirinhas, destruir plantações e agravar os prejuízos nas áreas urbanas. Esse fenômeno é consequência direta da quebra do fluxo hídrico natural, em que o rio perdeu a capacidade de infiltrar e armazenar a água das chuvas, transformando equilíbrio em instabilidade.</p><p>O Itapecuru, portanto, não grita sozinho. Ele expressa o colapso de um modelo de uso da água que ignora os limites do território e a necessidade de gestão integrada. Cada litro que falta nas torneiras de São Luís representa centenas de litros perdidos, desperdiçados ou poluídos ao longo do caminho. De acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, 53% da água captada e tratada é perdida antes de chegar às residências, seja por vazamentos, ligações irregulares ou falhas na rede de distribuição. Em outras palavras, para cada mil litros retirados do Itapecuru, mais da metade se perde no percurso, comprometendo ainda mais o abastecimento e agravando o desperdício de um recurso que já é escasso.</p><p>O rio pede uma resposta institucional, como a criação de uma Agência Estadual das Águas, mas também clama por uma nova consciência coletiva. A ciência, os dados e a história convergem para a mesma conclusão: sem planejamento ambiental integrado, reflorestamento das margens, controle da poluição e participação social efetiva, o Itapecuru continuará agonizando, e com ele, a segurança hídrica do Maranhão.</p><p>Logo a chuva virá, mas o alívio será passageiro. O rio pede socorro, e nós, sociedade e Estado, precisamo

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