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Museu dos Direitos Civis reabre em Atlanta e resiste a tentativa de Trump de reescrever a História

09/11/2025 03:30 O Globo - Rio/Política RJ

Em uma tarde recente, funcionários do recém-reformulado Centro Nacional para os Direitos Civis e Humanos (National Center for Civil and Human Rights), em Atlanta, trabalhavam na montagem de uma nova exposição que começa com um retrato otimista: o fim da Guerra Civil americana, a abolição da escravidão, a eleição de candidatos negros, e a criação de universidades como Morehouse College e Atlanta University, dedicadas a estudantes afro-americanos.
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O percurso, no entanto, logo muda de tom. O distrito de Greenwood, em Tulsa — conhecido como Black Wall Street pela prosperidade da comunidade negra — é mostrado em chamas, vítima de um ataque racista que devastou vidas e negócios. Em seguida, o visitante vê como líderes brancos do Sul dos EUA arquitetaram leis que institucionalizaram a segregação e bloquearam o acesso de negros à política por gerações.
“É a história do progresso negro e da reação branca”, resume Kama Pierce, diretora de programação e curadora da exposição no centro em Atlanta, reaberto no sábado (8) após uma reforma e expansão de US$ 58 milhões. “Temos a sensação de que ainda estamos presos nesse ciclo neste país.”
Os líderes do centro não ignoram o fato de que um museu dedicado à complexa história dos direitos civis nos Estados Unidos está reabrindo em um momento em que o presidente Donald Trump usou o poder do governo federal para desmantelar programas de diversidade e promover uma versão mais “positiva” — e menos crítica — da história americana.
Nos últimos anos, ouve uma pressão generalizada para que as instituições culturais enfrentassem o alcance persistente do racismo após o assassinato de George Floyd. Agora, o pêndulo parece ter oscilado na direção oposta: este ano, Trump assinou uma ordem executiva condenando um “movimento revisionista” que, segundo ele, “divide a sociedade e fomenta um sentimento de vergonha nacional”. Sua administração também teria tentado retirar do Smithsonian Institution termos considerados “ideológicos”, além de levar à renúncia da diretora da Galeria Nacional de Retratos após comentários sobre desigualdade racial e de gênero.
Memória, resistência e emoção
O trabalho de preservar e divulgar a história dos direitos civis no Sul profundo dos Estados Unidos sempre foi árduo. Mas, segundo os responsáveis pelo centro e líderes cívicos de Atlanta, apresentar um retrato fiel do movimento exige um nível renovado de perseverança no contexto atual.
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“Aprendemos com a nossa história — celebramos algumas partes, lamentamos outras”, diz Shirley Franklin, ex-prefeita de Atlanta e defensora do museu desde sua inauguração, em 2014. “As histórias sempre precisaram ser contadas”, acrescentou, afirmando que agora “o desafio de contá-las pode ser maior, mas instituições como o centro têm a oportunidade de preencher essa lacuna”.
Os curadores do museu disseram que sua intenção não era sensacionalizar nem suavizar a história, mas sim fazer com que ela ressoasse de forma visceral. Para isso, eles se basearam fortemente em evidências documentais, incluindo fotografias e vídeos, depoimentos de participantes de eventos importantes e relatos contemporâneos de jornalistas.
Entre as novidades, o museu atualizou uma de suas exposições mais populares e impactantes: a simulação de um protesto pacífico em uma lanchonete. Visitantes se sentam em bancos, colocam fones de ouvido e escutam xingamentos e ameaças enquanto tentam manter a calma — agora precedidos por uma explicação sobre o treinamento rigoroso que os manifestantes reais recebiam para se manter unidos. Lenços de papel foram adicionados discretamente, reconhecendo o impacto emocional da experiência. Muitos saem antes do término da gravação de um minuto e 25 segundos.
Uma das instalações mais populares no Centro Nacional de Direitos Civis e Humanos, em Atlanta, reproduz uma manifestaçã pacífica em uma lanchonete
Rita Harper/The New York Times
Outra expansão importante é o espaço dedicado a Martin Luther King Jr., cujos documentos originais o centro tem exclusividade para exibir. A curadoria inicial, assinada por Bernice King, filha do líder, destaca cartas escritas à mão e reflete sobre desobediência civil, concentrando-se no ativismo mais amplo de seu pai pela melhoria das oportunidades econômicas e das condições de trabalho e a oposição à Guerra do Vietnã.
Os responsáveis pelo museu dizem ter evitado muita interpretação nas exposições para incentivar os visitantes a tirarem suas próprias conclusões. “Não exageramos nem os pecados nem os triunfos”, explica Jill Savitt, diretora-executiva do centro. “Mas estamos informando quais são os direitos. E mostrando em qu

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