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Lento, quente e violento: entenda por que furacões como o Melissa estão se tornando mais comuns

28/10/2025 10:16 O Globo - Rio/Política RJ

Impulsionado por águas quentes no Caribe, o furacão Melissa atingiu a categoria 5 — o nível máximo da escala Saffir-Simpson — e tornou-se um exemplo extremo de como o aquecimento global está transformando o comportamento dos ciclones tropicais. A tempestade passou de ventos de 110 km/h no sábado (25) para 225 km/h em apenas 24 horas nesta terça-feira (28), uma intensificação “explosiva” que, segundo especialistas ouvidos pela AFP, é cada vez mais frequente em um clima mais quente.
Furacão Melissa: vídeos mostram intensidade do fenômeno na Jamaica
De acordo com o meteorologista e cientista climático do MIT, Kerry Emanuel, embora ainda seja difícil associar um evento isolado às mudanças climáticas, a tendência de furacões que se fortalecem rapidamente é clara. “Pode muito bem ser, em conjunto, um sinal da mudança climática”, afirmou à AFP. Emanuel foi o primeiro a propor que a diferença entre a temperatura da água e da atmosfera é o que determina o potencial de força de um furacão — uma diferença que vem se ampliando à medida que os oceanos esquentam.
Veja imagens da Força Aérea dos EUA que revelam o 'olho do furacão' Melissa antes de atingir a Jamaica:
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O Climate Central calculou que as águas atravessadas por Melissa estavam 1,4°C mais quentes do que o normal, um aumento que seria 500 vezes menos provável sem o aquecimento causado por atividades humanas. Segundo o cientista atmosférico Daniel Gilford, da mesma instituição, o resultado é que as tempestades se tornam não apenas mais fortes, mas também mais úmidas. “Esperamos de 25% a 50% mais chuva em uma tempestade como Melissa devido às mudanças climáticas”, disse à AFP.
Além da força, Melissa preocupa por outro motivo: sua lentidão. Movendo-se a apenas 5 km/h, o furacão ameaça provocar chuvas entre 50 e 63 centímetros em partes da Jamaica. Para a climatologista Jill Trepanier, da Universidade Estadual da Louisiana, a combinação de uma tempestade quase parada e de águas extremamente quentes cria “uma situação aterradora”. “Pode haver chuva intensa por um período prolongado, ventos extremos e marés de tempestade contínuas. Pouca infraestrutura está preparada para isso”, alertou.
Especialistas também observam que as tempestades estagnadas estão se tornando mais comuns. O climatologista James Kossin, ex-pesquisador da NOAA, afirma que os dados indicam um aumento desse fenômeno, possivelmente ligado à amplificação ártica — o aquecimento mais rápido das regiões polares, que enfraquece os ventos capazes de deslocar os furacões. Com ventos menos intensos nas camadas superiores da atmosfera, as tempestades tendem a ficar presas sobre o mesmo ponto, multiplicando os danos.
Os impactos não se limitam à física da atmosfera. Trepanier lembra que, na Jamaica, o relevo montanhoso aumenta o risco de deslizamentos de terra, enquanto prejuízos a hotéis e estradas podem afetar o turismo — base da economia local — por anos. “O que vemos com Melissa não é um caso isolado”, conclui Emanuel. “É um aviso claro de como o aquecimento global está reescrevendo as regras dos furacões.”

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