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Entenda porque Londres se tornou um centro global de roubo de celulares

15/10/2025 18:44 O Globo - Rio/Política RJ

Sirenes soaram quando vans da polícia entraram em uma rua no norte de Londres, e pessoas chocados pararam para assistir enquanto os policiais invadiam três lojas de telefones usados.
“O senhor tem um cofre em suas instalações?”, perguntou um policial a um lojista, que estava sentado ao lado de seu computador e de uma xícara de chá pela metade.
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O homem observou enquanto eles vasculhavam celulares, dinheiro e documentos de dois cofres. A operação, que o The New York Times foi convidado a observar, foi uma das dezenas realizadas na capital no mês passado, parte de um esforço tardio e de grande visibilidade da Polícia Metropolitana de Londres para combater o problema de roubo de celulares que tem assolado a cidade nos últimos anos.
A escala do crime ultrapassou os furtos comuns em Londres, antes mesmo de Oliver Twist, de Charles Dickens, torná-lo famoso. Ladrões cada vez mais ousados, muitas vezes mascarados e em bicicletas elétricas, tornaram-se especialistas em roubar celulares de moradores e turistas. Um recorde de 80 mil celulares foram roubados na cidade no ano passado, segundo a polícia, dando a Londres uma reputação indesejável como capital europeia do crime.
As operações do mês passado tiveram como objetivo identificar um grupo de intermediários que, segundo a polícia, utilizam lojas de telefones usados ​​como parte de uma rede criminosa global multifacetada. Ao final da operação de duas semanas, os detetives encontraram cerca de 2.000 telefones roubados e 200 mil libras (cerca de R$ 1,46 milhão) em dinheiro.
Caixas de telefones roubados com destino a Hong Kong foram encontradas em um depósito perto do Aeroporto de Heathrow
Polícia Metropolitana de Londres
Depois de anos em que o roubo de telefones era uma baixa prioridade para uma força policial sobrecarregada, as novas operações estão revelando a curiosa mistura de fatores por trás da epidemia, incluindo cortes drásticos nos orçamentos da polícia britânica na década de 2010 e um lucrativo mercado negro de celulares europeus na China.
Uma milha de papel alumínio
Durante anos, a polícia de Londres presumiu que a maioria dos roubos de celulares eram obra de pequenos ladrões em busca de dinheiro rápido. Mas, em dezembro passado, eles receberam uma pista intrigante de uma mulher que havia usado o "Encontre meu iPhone" para rastrear seu dispositivo até um depósito perto do Aeroporto de Heathrow. Ao chegarem lá na véspera de Natal, os policiais encontraram caixas com destino a Hong Kong. Elas estavam rotuladas como baterias, mas continham quase mil iPhones roubados.
“Rapidamente ficou claro que não se tratava apenas de um crime de rua comum e de baixa gravidade”, disse Mark Gavin, detetive sênior que lidera a investigação para a Polícia Metropolitana. “Era algo em escala industrial.”
O avanço coincidiu com um esforço mais amplo da polícia para aumentar a confiança do público, combatendo os crimes mais comuns na cidade. O roubo de celulares tem sido alvo de grande indignação entre as vítimas, que durante anos relataram o roubo de seus celulares e forneceram à polícia as localizações transmitidas, apenas para receber um número de referência do crime e não receber mais nenhuma informação.
A polícia agora está usando essas informações para mapear para onde os celulares roubados são transportados por ladrões de rua. Após a apreensão em Heathrow, uma equipe de investigadores especializados, que normalmente lidam com armas de fogo e tráfico de drogas, foi designada para o caso. Eles identificaram novas remessas e, por meio de perícia, identificaram dois homens na faixa dos 30 anos, suspeitos de serem os líderes de um grupo que enviou até 40 mil celulares roubados para a China.
Quando os homens foram presos em 23 de setembro, o carro em que viajavam continha vários celulares, alguns embrulhados em papel-alumínio para impedir a transmissão de sinais de rastreamento. Em determinado momento, a polícia relatou em uma coletiva de imprensa que observou os homens comprando quase 2,4 quilômetros de papel-alumínio no Costco.
Alguns celulares são redefinidos e vendidos para novos usuários na Grã-Bretanha. Mas muitos são enviados para a China e a Argélia como parte de um "modelo de negócios criminoso local para global", disse a polícia, acrescentando que, na China, os celulares mais novos podem ser vendidos por até US$ 5.000 (cerca de R$ 36,4 mil), gerando enormes lucros para os criminosos envolvidos.
Joss Wright, professor associado da Universidade de Oxford, especialista em segurança cibernética, disse que é mais fácil usar telefones britânicos roubados na China do que em outros lugares porque muitas das operadoras do país não assinam uma lista negra internacional que proíbe dispositivos que foram relatados como roubados.
“Isso significa que um iPhone roubado que foi bloqueado no Reino Unido pode ser usado sem problemas na China”, disse Wright.

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