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Doces ou travessuras? Neste Halloween, seu chocolate pode não ser tão chocolate assim

31/10/2025 14:27 O Globo - Rio/Política RJ

Quase ninguém percebeu quando, em algum momento nos últimos anos, as embalagens de chocolate foram atualizadas para remover as palavras “chocolate ao leite”. As mudanças foram fáceis de ignorar: a descrição na frente da embalagem do Mr. Goodbar (popular nos EUA) passou de “chocolate ao leite com amendoins” para “doce de chocolate com amendoins”. O Almond Joy agora é comercializado como uma “barra de doce de chocolate com coco e amêndoas”. Os Rolos agora vêm embrulhados como “doce de chocolate rico” em vez de “chocolate ao leite”.
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Percebi isso no início deste ano, depois de comer uma barra de chocolate decepcionante. Ela não estava estragada; apenas não tinha o mesmo sabor de antes.
Como repórter que cobre temas climáticos, eu já havia lido sobre o aquecimento global contribuindo para a seca na África Ocidental e fazendo os preços do cacau dispararem — e sabia que as empresas de doces haviam aumentado os preços e reduzido o tamanho das porções.
Mas será que também estavam mexendo na composição do doce em si?
Sim, ao que parece. Especialistas dizem que os altos preços do cacau desencadearam uma onda de “reformulações”, o termo usado na indústria para mudanças de receita. Com o aumento da demanda durante o Halloween, algumas empresas de doces estão substituindo a cara manteiga de cacau por outras gorduras — uma troca que faz com que seus produtos deixem de atender à definição regulatória de chocolate ao leite nos Estados Unidos e, portanto, não possam mais ser chamados assim nas embalagens.
Cacau em uma fazenda na vila de Binao, na Costa do Marfim: os altos preços do cacau em 2025 desencadearam uma onda de "reformulações", termo usado na indústria para mudanças nas receitas.
Andrew Caballero-Reynolds/The New York Times
É por isso que o chocolate ao leite (um termo regulamentado pela Food and Drug Administration, a FDA) virou “doce de chocolate”. E esses são apenas os exemplos mais evidentes. Munidos das mais recentes técnicas de confeitaria, os cientistas de doces trabalham arduamente para encontrar reformulações que fiquem logo abaixo do limite que exige uma mudança obrigatória no rótulo. Essas alterações podem passar despercebidas fora da indústria — e do restrito círculo dos cientistas degustadores de doces.
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Olhando com atenção, isso pode parecer uma história de sucesso: à medida que as mudanças nos padrões climáticos tornam alguns ingredientes mais escassos, a indústria alimentícia tem usado seus orçamentos multimilionários de pesquisa e desenvolvimento para se ajustar às grandes transformações na agricultura.
Sem muito alarde, as evidências do clima em mudança no mundo já se infiltraram em nossos doces.
Nos últimos anos, secas mais longas, calor extremo e padrões irregulares de chuva têm reduzido a produtividade do cacau na África Ocidental, principal região produtora da cultura. Uma infecção transmitida por cochonilhas também se espalhou rapidamente. Especulação financeira, ameaça de tarifas, problemas trabalhistas e outros fatores geopolíticos agravaram ainda mais a situação.
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Em fevereiro, o grupo de pesquisa sem fins lucrativos Climate Central publicou um estudo que concluiu que as mudanças climáticas trouxeram seis semanas adicionais de calor extremo por ano, em média, para a maioria das regiões produtoras da África Ocidental na última década, reduzindo a produtividade das lavouras.
Um trabalhador prepara grãos de cacau para torrefação em uma fábrica de chocolate em Grand-Bassam, Costa do Marfim. Como algumas empresas de doces estão substituindo a manteiga de cacau, que é cara, por outras gorduras, seus produtos não atendem mais à definição regulamentar americana de chocolate ao leite
Andrew Caballero-Reynolds/The New York Times
O resultado de toda essa recente turbulência no mercado de cacau é que os preços dispararam, atingindo um pico de mais de US$ 10 mil (R$ 53, 7 mil) por tonelada no fim do ano passado — cerca de quatro vezes o valor de 2022, segundo o Federal Reserve Bank de St. Louis.
— Quando as mudanças climáticas se chocam com problemas estruturais e doenças, os preços sobem, e os fabricantes hesitam em repassar esses aumentos para não prejudicar as vendas. Ou os consumidores procuram outra coisa, ou as empresas tentam reformular os produtos — disse Judy Ganes, consultora da indústria alimentícia.
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Executivos do setor alimentício reconhecem abertamente a tendência de reduzir o uso de ingredientes de cacau para economizar dinheiro, mas, quando se trata de responder a perguntas sobre mudanças em suas próprias receitas, são muito mais cautelosos.
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