Direita silencia diante de repercussão positiva de Lula e Trump e evidencia discurso desalinhado
O silêncio de governadores e as reações contidas de outras figuras da oposição ao encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o americano Donald Trump evidenciam o momento desfavorável da direita após uma série de reveses nos últimos meses. Além da ausência de comentários por parte de nomes relevantes do campo político, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro adotaram discurso desalinhado para enfrentar a repercussão da reunião bilateral nas redes.
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Após um começo de ano positivo, embalado pela queda do petista nas pesquisas na chamada “crise do Pix”, os bolsonaristas se depararam com derrotas em série no segundo semestre. Quando o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se mudou para os EUA, articulou as tarifas e sanções contra o Brasil, os governadores de direita que despontam como possíveis presidenciáveis moldaram o discurso para associar o movimento de Trump à postura de Lula, que seria “antiamericana”.
O argumento era de que o país não estava buscando a devida interlocução com a maior potência do mundo, o que ficou difícil de sustentar depois do encontro do fim de semana — que rendeu até “feliz aniversário” do republicano ao brasileiro e elogios voltados para o “vigor” dele. Depois da reunião e da foto em que os dois presidentes aparecem sorridentes lado a lado, Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Ratinho Júnior (PR) e Ronaldo Caiado (GO) não se manifestaram. Outro silêncio sentido foi o do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), principal comunicador digital do bolsonarismo, que nada falou.
Reação à foto de Lula e Trump
Editoria de arte
Imagem viral
Mapeamento da Quaest por meio da ferramenta QuaestScan, desenvolvida pelo instituto para monitorar imagens e áudios na internet, dá a dimensão do peso político da imagem de Lula com Trump. A foto somou 72 milhões de visualizações e 22 milhões de curtidas, juntando perfis em redes como Instagram, X, TikTok e Facebook. Até então, a foto do petista com maior número de views era uma ao lado de Janja, em agosto de 2021, que teve 65 milhões.
— A foto publicada e amplamente visualizada é um exemplo claro da política como imagem, que mesmo sem legenda fala sobre o que aconteceu. O sorriso, a postura, o aperto de mão, tudo é simbólico — avalia o diretor da Quaest, Felipe Nunes.
Mesmo a família Bolsonaro foi mais contida na reação. Alguns aliados do ex-presidente se concentraram em se vangloriar do fato de Trump ter dito, quando perguntado pela imprensa, que “sempre gostou” de Bolsonaro e que “se sentiu mal” pelo que aconteceu com ele.
“Lula encontra Trump e na mesa um assunto que claramente incomoda o ex-presidiário: Bolsonaro. Imagine o que foi tratado a portas fechadas?”, publicou Eduardo Bolsonaro, indicando que o americano pode ter falado sobre o pai com Lula — não há indícios de que o tema tenha sido abordado.
Outro argumento do clã, manifestado pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), foi o de que Lula saiu da reunião de mãos abanando, sem um acordo sólido. O encontro, no entanto, serviu de pontapé inicial para as negociações. Não havia no Planalto e no Itamaraty a expectativa de voltar da Malásia com o anúncio de revogação de tarifas ou de sanções a autoridades.
O próprio estímulo da família Bolsonaro à intervenção de Trump no Brasil já havia sido um tiro no pé da direita, como expuseram várias pesquisas. A visão dos brasileiros sobre os Estados Unidos enquanto nação ruiu, com a percepção desfavorável (48%) superando a favorável (44%) na Genial/Quaest de agosto. Antes, o patamar dos que davam opinião positiva sobre o país ficava perto dos 60%.
Quando o instituto perguntou quem estava agindo de forma mais correta em relação ao tarifaço, 49% responderam que eram Lula e o PT, contra apenas 27% que citaram Bolsonaro e aliados. O rechaço às tarifas superou os 70%.
Para piorar a conjuntura desfavorável, outro gesto classificado internamente como um “presente” para Lula foi a bandeira dos Estados Unidos esticado na Avenida Paulista, no feriado de 7 de setembro, durante manifestação bolsonarista. Veiculada no dia da Independência do Brasil, a imagem serviu de munição para apoiadores do petista evocarem novamente o discurso de soberania, em contraponto ao “entreguismo” do outro lado.
O bolsonarismo, no entanto, ainda se sentia amparado, em última instância, pelo apoio de Trump. Mas até isso começou a ruir quando, após o encontro que durou 39 segundos na sede da ONU, o presidente da maior economia do mundo declarou que teve uma “química inesperada” com Lula. Entre esse episódio e a reunião de domingo na Ásia, houve também uma ligação telefônica dos dois presidentes, na qual alinhavaram as bases para a conversa presencial — e não falaram sobre Bolsonaro.
Em outra seara, a direita ficou associada à PEC da Blindagem, rejeitada por 63% na p
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