Buchecha vai à velório de jovem que morreu baleada na Linha Amarela; artista cantou no seu casamento
No Dia de Finados, o silêncio de um domingo abafado se misturava ao choro no Cemitério de Irajá, na Zona Norte do Rio. Flores brancas e girassóis cercavam o caixão de Bárbara Borges, de 28 anos, morta com um tiro na cabeça durante um tiroteio na Linha Amarela, na altura da Maré. O corpo foi velado às 13h entre colegas, familiares, amigos — e dois nomes que testemunharam de perto capítulos distintos da vida dela: o secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, e o cantor Buchecha.
Ferreirinha chegou cedo, em consideração à mãe da jovem. Beth era funcionária antiga da rede municipal de ensino.
— Não é a ordem natural da vida uma mãe ter que enterrar uma filha, especialmente numa circunstância como essa. A Bárbara era uma menina cheia de vida, criada em um lar de educadores. A Beth é nossa gerente de recursos humanos, a irmã dela dirige uma creche da rede. É de cortar o coração. A gente está buscando dar todo apoio possível à família nesse momento de tanta dor — disse o secretario.
Bárbara havia acabado de ser promovida no banco onde trabalhava. Sonhava com filhos, com uma casa própria, com o futuro que planejava ao lado do marido — o mesmo com quem o cantor Buchecha dividiu o palco do casamento deles, há três anos. O artista também foi até o cemitério, emocionado.
— Cantei no casamento deles, pessoas incríveis — lembrou. — Nos deixa tão cedo, por conta dessa violência que parece não ter fim. A gente precisa de uma resposta, de um basta. Queremos um Rio de Janeiro de paz.
Bárbara, segundo a família, era uma jovem alegre, dedicada e cuidadosa. Estava voltando para casa, dentro de um carro por aplicativo, quando o veículo ficou preso em meio a um confronto armado entre criminosos e policiais, na última sexta-feira. O motorista foi baleado na mandíbula e segue internado.
Sem tempo de se proteger, ela foi atingida por uma bala perdida. A família só soube do que havia acontecido quando o marido, que estava em São Paulo, rastreou o celular da esposa e viu a localização dentro do Hospital Federal de Bonsucesso.
— A gente achou que ela tivesse passado mal, que estivesse ferida… Mas ela já chegou praticamente morta — contou a sogra, Andréia Assis.
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