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Ana Maria Gonçalves assume cadeira na Academia Brasileira de Letras

08/11/2025 15:56 Imirante - Política

<p>BRASIL - “Benção, mãe. Benção, pai.” Foi com essa saudação, e após palmas emocionadas, e em homenagem às suas raízes e à ancestralidade, que a escritora Ana Maria Gonçalves iniciou na noite desta sexta-feira (7), seu discurso de posse na cadeira número 33 da Academia Brasileira de Letras (ABL) no Rio de Janeiro.</p><p>Autora do romance histórico <i>Um defeito de cor</i>, Ana Maria tornou-se a 13ª mulher a ocupar uma cadeira na instituição fundada em 1897 e a primeira mulher negra eleita para o quadro de imortais. Em um discurso comovente e contundente, celebrou sua chegada à Casa de Machado de Assis e dedicou o momento à memória dos que vieram antes.</p><p>“Agradeço, por fim, à minha ancestralidade, fonte inesgotável de conforto, fé, paciência e sabedoria.”</p><p>Ana Maria relembrou a trajetória dos ocupantes anteriores da cadeira 33, destacando o fundador Domício da Gama e o linguista Evanildo Bechara, de quem herdou o posto.</p><p>“O fundador da cadeira 33 é Domício da Gama, jornalista, diplomata, contista e cronista, nascido em Maricá em 1862. Amanhã completaremos 100 anos de sua morte.”</p><p>Sobre Bechara, ressaltou o legado intelectual e o amor pela língua portuguesa: “Entre 1954 e 1985, ele escreveu e publicou mais de duas dezenas de livros, sendo um dos mais conhecidos a <i>Moderna Gramática Portuguesa</i>. Foi figura central na elaboração do novo acordo ortográfico e representou o Brasil como um dos maiores estudiosos da língua.”</p><p>A escritora também resgatou a história da exclusão feminina na Academia.</p><p>“A não admissão de mulheres foi inicialmente um acordo entre cavalheiros, já que não havia nada impeditivo no estatuto”, lembrou, referindo-se à candidatura vetada da escritora Amélia Beviláqua, em 1930.</p><p>Ana Maria citou as pioneiras que vieram depois da mudança do estatuto, entre elas Rachel de Queiroz, Lygia Fagundes Telles, Nélida Piñon, Zélia Gattai, Ana Maria Machado, Rosiska Darcy de Oliveira, Fernanda Montenegro, Lilia Schwarcz e Miriam Leitão.</p><p>“Depois do apagamento de Júlia Lopes de Almeida, das candidaturas negadas de Amélia Beviláqua e Diná Silveira de Queiroz, viemos nós: Raquel, Lygia, Nélida, Zélia, Ana, Cleonice, Rosiska, Fernanda, Lília, Miriam e eu. Ainda somos poucas para tanto trabalho de reconstrução do imaginário sobre o que representamos.”</p><p>Com emoção, refletiu sobre a presença negra na ABL e a importância de ampliar as vozes dentro da instituição: “Durante muito tempo, o acadêmico Domício Proença foi o único negro na Academia Brasileira de Letras. E durante muito mais tempo ainda, a negritude de Machado lhe foi negada.”</p><p>A escritora reconheceu o papel das candidaturas de Conceição Evaristo e Ailton Krenak no debate sobre diversidade: “A discussão em torno da candidatura de Conceição Evaristo, em 2018, contribuiu para que eu esteja aqui hoje. Fez com que a Academia se olhasse no espelho e percebesse o quanto ainda falhava em representar todas as línguas faladas pelo nosso povo.”</p><p>Encerrando o discurso, Ana Maria assumiu um compromisso com a diversidade e a abertura da Casa: “Cá estou eu, 128 anos depois de sua fundação, como a primeira escritora negra eleita para a Academia Brasileira de Letras, falando português e escrevendo a partir de noções de oralidade e escrevivência. Assumo como missão promover a diversidade nesta Casa, abrir suas portas ao público — verdadeiro dono da língua — e ampliar o empenho na divulgação e promoção da literatura brasileira.”</p><p>Ao citar pensadoras negras como Neusa Santos e Chimamanda Adichie, reafirmou o papel da literatura na reconstrução de identidades.</p><p>“Saber-se negra é viver a experiência de ter sido massacrada em sua identidade, mas também a experiência de comprometer-se a resgatar sua história e recriar-se em suas potencialidades e venho trabalhar para que não sejamos empobrecidos pela contação de uma história única.”</p><p>A apresentação da nova imortal foi feita por Lilia Schwarcz, quinta ocupante da cadeira nº 9, eleita em 2024. A historiadora destacou o impacto de Um defeito de cor e fez um paralelo entre passado e presente, ao lembrar as recentes operações policiais nas comunidades do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro.</p><p>“As mães que hoje choram seus filhos nas favelas do Rio são ecos das mulheres que, no tempo da escravidão, também perderam os seus. Ana Maria traz essas vozes para dentro da literatura e, agora, para dentro da Academia.”</p><p>A cerimônia contou ainda com Ana Maria Machado, que entregou o colar acadêmico, e Gilberto Gil, responsável pelo diploma. A comissão de entrada foi formada por Rosiska Darcy de Oliveira, Fernanda Montenegro e Miriam Leitão; e a de saída, por Domício Proença Filho, Geraldo Carneiro e Eduardo Giannetti.</p>&lt

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