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Só mesmo por amor: Imagine formar uma família sabendo que será julgado e enfrentará preconceito

02/11/2025 07:30 O Globo - Rio/Política RJ

Algumas pessoas sentem medo quando o mundo se move. Por isso se agarram a ideias fixas, como a de que uma família só é legítima quando há um pai, uma mãe e filhos — o formato padrão. Porém, o mundo andou. Saiu do lugar, se expandiu, absorveu outros modos de existência. Sem motivo para pânico.
Pouco tempo atrás, acompanhei a trajetória de duas jovens apaixonadas que se casaram e decidiram ser mães. Através de fertilização, geraram uma menina linda, e deu tudo tão certo que daqui a pouco virá um rapazinho. O desejo delas não é provocar a sociedade ou desafiar os preceitos divinos, elas têm mais o que fazer. Trabalham muito e ainda têm que cuidar da filhinha e do bebê que em breve nascerá. O que as levou a formar uma família é o mesmo que levou você a formar a sua, e eu a minha: o amor. Quem diria, são tão “caretas” quanto nós.
Se bobear, até mais: enquanto um casal hétero poderá formar uma família apenas por convenção, entre casais gays essa pressão por enquadramento não vigora. Tampouco entre quem decide ser mãe solo, ou pai solo. Ou entre quem adota três irmãozinhos a uma só vez. Imagine formar uma família sabendo que será julgado e enfrentará preconceito. Só mesmo por amor. Pergunte para Deus, o maior entendedor do assunto.
O jornalista Pedro Andrade, que já nos encantou com suas andanças pelo mundo, recolocou o pé na estrada e acaba de estrear uma nova série, agora para contar sua história como pai da Isabel, filha dele e de seu marido Ben. O primeiro episódio de “Um tanto familiar” mostra como eles realizaram este sonho através de uma barriga de aluguel, e mostra também dois pais italianos com experiência semelhante. O segundo episódio foi dedicado ao parto da pequena Isabel e como a vida de Pedro e Ben passou a ser dividida entre antes e depois. Ambos os episódios estão disponíveis na HBO Max, e nos próximos veremos Pedro visitando, ao redor do planeta, diversos modelos de famílias anticonvencionais — não menos amorosas, nem menos complicadas, apenas diferentes.
O que é uma família? São pessoas. Um homem, uma mulher. Dois homens, duas mulheres. Amigos compartilhando o mesmo teto. Enfim, estejamos preparados para os próximos capítulos — da série e da vida. Somos todos humanos em busca de realização afetiva. É extraordinário oferecer nosso tempo e dedicação a alguém com quem a gente se importa mais do que nós. Família não é o resultado apenas de uma procriação, e sim da predisposição para um amor gigante, que tanto fortalece quanto vulnerabiliza. Diante da aridez e violência que nos cercam, seria um desperdício manter essa pulsão de afeto restrita a uma só configuração. Que sorte a nossa que o mundo se move.

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