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Restauração de solos pode ajudar o Brasil a cumprir meta climática

03/11/2025 10:01 O Globo - Rio/Política RJ

O Brasil tem entre 60 e 135 milhões de hectares de vegetação nativa suscetível ao processo de degradação, segundo dados divulgados pela plataforma MapBiomas no ano passado. O problema é causado, principalmente, por ações humanas — e é uma ameaça séria ao meio ambiente, impactando diretamente o clima.
Com menos árvores para capturar carbono, os eventos extremos se tornam mais intensos e menos espaçados. Vale lembrar que só na Amazônia brasileira, segundo dados atualizados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), a floresta já perdeu uma área de 18% — ou 52,1 milhões de hectares de sua cobertura vegetal.
A necessidade de recuperação de terras degradadas foi um dos temas do seminário “Florestas como vetor do desenvolvimento”, promovido pelo BNDES no Rio de Janeiro dia 10 de outubro, em que o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, afirmou o compromisso do Governo Federal em “consolidar a restauração ambiental, com o apoio da iniciativa privada”.
Para ele, a reabilitação das florestas pavimentará o cumprimento da nova meta climática brasileira sob o Acordo de Paris, a NDC. O objetivo é alcançar a redução das emissões líquidas de gases-estufa de 59% a 67% até 2035, em comparação aos níveis de 2005.
O PONTO DE NÃO RETORNO
A boa notícia é que a regeneração de terras é um processo que vem sendo aprimorado nas últimas décadas. Algumas organizações trabalham em conjunto com pequenos produtores, que se beneficiam também, quando percebem que é possível obter renda com a floresta em pé. No entanto, não é um procedimento fácil. Exige técnica, pessoal especializado e recursos financeiros. Dados do Ipam dão conta de que é preciso investir cerca de R$ 50 mil a 70 mil para restaurar um hectare de área com sistemas agroflorestais.
Lucimar Souza, diretora de Desenvolvimento Territorial do instituto de pesquisa, que há cerca de 25 anos trabalha nesse segmento, agrega um outro item necessário para a restauração: o tempo. Por causa das mudanças climáticas, a porcentagem de perda de árvores plantadas vem aumentando nos últimos 15 anos, o que contribui para retardar o trabalho de renovação.
“Precisamos conservar o que temos de floresta porque, caso contrário, podemos entrar num ponto de não retorno. Isso quer dizer que carecemos de mais prazo para essa recuperação, porque os ciclos chuvosos interferem no plantio e muitas vezes é necessário voltar e refazer tudo”, disse a especialista.
A equipe de campo do Ipam trabalha em uma linha de pesquisa para quantificar e medir esses danos. “Há 15 anos, quando começávamos um projeto de restauração, prevíamos um prejuízo de 10% de árvores por causa do ciclo chuvoso. Hoje nosso time técnico já aponta mais de 20% de perda”, conclui.
SOMA DE MUITOS ESFORÇOS
Lucimar Souza ressalta ainda que, justamente pela complexidade do processo, é preciso uma união entre os setores privado, governamental e a sociedade civil. Nesse cenário, é importante que os produtores rurais sejam envolvidos, pois o bem-estar das famílias do campo é ponto crucial na hora de recuperar as terras.
“Por muito tempo, os ambientalistas atrelaram a restauração ao plantio de árvores. Mas não é só isso. Hoje sabemos que ele é a cereja do bolo, mas antes precisamos fazer a manutenção das mudas e o monitoramento”, lembra Adriana Kfouri, diretora de Mata Atlântica da The Nature Conservancy (TNT), salientando que esse processo vem ocorrendo apenas nos últimos 50 anos.
“Já temos tecnologias que ajudam, com o uso de drones e satélites para acompanhar a evolução do plantio. E utilizamos metodologias eficazes, como a biomassa e a muvuca, que é o cultivo de sementes mais barato e com bom resultado. A sociedade precisa fazer parte, porque ela vai ajudar a proteger. Mas, para isso, precisa poder usufruir economicamente da floresta. Um exemplo é o plantio de cacau, que ajuda as famílias economicamente, mas existem muitos outros. É preciso que a floresta tenha valor em pé”, complementa.
As duas especialistas concordam que o melhor é tentar impedir que o solo fique doente para não precisar restaurar. “Tratar bem a terra para que ela não precise ser restaurada”, conclui Adriana.

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