PH: Entre discurso e prática
<p>[media :type="fotolegenda" :ref="806889" :title="O presidente Lula discursando na abertura da Cúpula de Líderes, em Belém" /]</p><p><strong>Entre discurso e prática</strong></p><p>O discurso do presidente Lula na abertura da Cúpula de Líderes, em Belém, ontem, descreve com precisão a necessidade de se levar a sério os alertas da ciência sobre os riscos de um planeta cada vez mais quente.</p><p>Tudo certo! O presidente, como anfitrião da COP30, fez uma convocação exemplar diante dos chefes de Estado e de governo sobre a urgente necessidade de “se afastar dos combustíveis fósseis”. Aliás, mais do que urgente, justa.</p><p>No entanto, a “COP da verdade”, conforme escreveu o presidente em artigo publicado em grandes jornais brasileiros, ontem, precisa começar, com transparência. Caso contrário, virará mais um daqueles eventos para “inglês” ver – perdão pelo clichê, caro leitor, e sem qualquer relação com a presença do príncipe William em Belém.</p><p>Mas o fato é que todos que se preocupam com um desenvolvimento sustentável estão cansados de retórica, de reuniões de cúpula pouco efetivas e, principalmente, pouco resolutivas.</p><p><strong>Entre discurso e prática...2</strong></p><p>O discurso de Lula para o mundo ouvir não condiz com a prática – ao menos na parte em relação aos combustíveis fósseis. É verdade que o Brasil reduziu o desmatamento da Amazônia, e esse esforço deve ser reconhecido e aplaudido de pé.</p><p>Mas em relação ao “se afastar dos combustíveis fósseis” (o presidente usou literalmente o verbo “afastar-se”, que consta no documento final da COP28, de Dubai), o que se vê é o contrário.</p><p>O governo anfitrião da COP30, como os anteriores, em Dubai e em Baku, o que faz é “aproximar-se” dos combustíveis fósseis, ao promover a exploração de petróleo na costa amazônica, não muito distante de Belém, na altura de Oiapoque (Amapá).</p><p><strong>Entre discurso e prática...3</strong></p><p>Talvez essa falta de coerência entre discurso e prática caiba na parte em que Lula referiu-se a estar convencido das dificuldades e contradições. Talvez.</p><p>Lula discursou com firmeza sobre justiça social e cooperação, em um mundo cada vez mais dividido geopolítica e economicamente.</p><p>Mas a própria credibilidade da COP30 depende de transformar palavras em ações. E de coerência.</p><p><strong>Tapumes na Zona Azul</strong></p><p>A COP30, oficialmente, ainda não começou. A abertura será na segunda-feira. Mas, na prática, ela já foi inaugurada. Não só pelos discursos dos chefes de Estado e de governo, entre ontem e hoje, que estão dando o tom da conferência, mas porque a maioria dos espaços já está aberta aos participantes dentro da Blue Zone, a “Zona Azul”, local onde são tomadas as decisões da COP.</p><p>Abertos não significa que estão operacionais. Os líderes não irão ver, mas o local da COP30 é ainda um canteiro de obras. Chefes de Estado e de governo tiveram acesso ao plenário ontem, dentro da área chamada “Hangar”, centro de convenções construído a partir de um antigo hangar do aeroporto que funcionava anos atrás no Parque da Cidade. Ali, está tudo lindo.</p><p>Mas delegados, negociadores e jornalistas adentram na COP30 pelo portão principal. O pavilhão das delegações fica logo após o ingresso na Blue Zone. Ali há operários trabalhando por trás de uma cerca a fim de finalizar as áreas reservadas a cada nação.</p><p><strong>Pedaços de madeira</strong></p><p>Seguindo-se em direção aos salões das reuniões, imensos painéis, que mostram imagens da floresta Amazônica, sua fauna e flora, ainda estão pelo chão à espera de serem posicionados nas paredes. Há também escadas espalhadas e pedaços de madeira espalhados em corredores.</p><p>Faltam quatro dias para a abertura oficial da COP. A ideia de antecipar a abertura “extraoficial” foi do Planalto, na tentativa de liberar mais dias para as negociações – em outras COPs, o encontro de líderes ocorre no dia da inauguração formal.</p><p><strong>Ritual indígena e pressão</strong></p><p>Antes do início da Cúpula dos Líderes, o grupo Aliança dos Povos pelo Clima realizou manifestação em frente ao acesso principal da COP30.</p><p>Cerca de 40 pessoas, entre representantes indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais da Amazônia, fizeram o chamado “Giro de Raízes” – uma cerimônia para abençoar, com cantos, maracás e danças, o espaço que receberá as discussões climáticas.</p><p>Durante o ato, os manifestantes abriram uma faixa com os dizeres: “Financiamento direto para quem cuida da floresta”. A reivindicação do grupo é que os recursos que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva bus
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