"Não podem parar", diz viúva de policial morto em operação no Rio
A dor ainda é recente para Jéssica Araújo, de 34 anos, que tenta lidar com a perda do marido, o 3º sargento Heber Carvalho, morto durante a Operação Contenção, no Rio de Janeiro, no dia 28 de outubro. Ele foi um dos quatro agentes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) que perderam a vida na ação. Apesar da tragédia, Jéssica afirma acreditar que operações policiais são fundamentais no combate ao crime.Quanto menos operações, mais o tráfico vai crescer no Rio e mais a violência vai crescer. Não dá para fechar os olhos", disse em entrevista ao UOL.Para Jéssica, que agora se vê na difícil realidade de ser chamada de viúva, interromper as ações policiais não é uma opção. Ela defende a continuidade das operações mesmo após a perda do marido.“Eu, como esposa de policial, viúva hoje, digo com total certeza que eles [policiais] têm que continuar. Eles não podem parar. Tem que continuar operando. Infelizmente, a vida do meu marido acabou, mas existe muita gente do bem que está cansada de violência", disse Jéssica.A viúva acredita que operações como a que vitimou Heber impedem que criminosos de outros estados se estabeleçam no Rio. Segundo dados divulgados, 39 das 117 vítimas civis da ação eram de fora do estado.“Falo em nome da população de bem. Não dá para fechar os olhos para isso e achar que é normal. É normal a gente ter medo de sair na rua?", questionou. O último contatoJéssica lembra que o marido costumava dizer que “poderia ser o próximo” a morrer em serviço. Mesmo assim, ela se recusava a acreditar. “Ele falava: ‘estou pronto, pode ficar tranquila, vou morrer fazendo o que mais amo’. Mas eu achava que nunca ia acontecer.”Na véspera da operação, Heber mandou uma mensagem pedindo que ela orasse por ele. Foi o último contato.“Eu mandei um ‘te amo’ e ele visualizou. Depois mandei outra mensagem dizendo ‘mande notícias sempre que puder’. E aí ele já não viu mais.”
Mensagens trocadas com o marido antes dele não responder mais
| Foto: Lorena Barros/UOL
A notícia da morte chegou por meio de ligações e uma foto, que a deixaram em choque. “Quando meu cunhado me disse que ele tinha sido baleado, eu respondi: ‘ele morreu’.”Mesmo em meio ao caos que tomou as ruas do Rio, Jéssica percorreu mais de 13 quilômetros até o hospital onde o corpo do marido estava.“Pedi à médica para reconhecer o corpo dele, porque eu precisava ver para acreditar no que tinha acontecido. (...) Quando eu entrei lá na sala, vi que de fato tinha acontecido. Meu mundo desabou. Desmaiei, fiquei me sentindo mal. Naquela hora eu só pensava: 'O que vai ser de mim? O que que eu vou falar para a minha filha?' Uma menina de 12 anos, super agarrada com o pai", desabafou.O casal tinha dois filhos: um menino de 15 e uma menina de 12 anos.Da infância simples ao “herói anônimo”Criado no bairro de Inhoaíba, na zona oeste do Rio, Heber perdeu os pais ainda na infância e foi criado por uma tia. De origem humilde, estudou em escola pública e serviu à Marinha antes de ingressar na Polícia Militar.
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