'Não ganhou o ano todo, vai querer ganhar agora?': a noite em que a torcida do Paysandu torceu contra o próprio time

Aos 7 minutos, Delatorre abriu o placar para o Coritiba, contra o Paysandu, no Estádio da Curuzu, em Belém. De forma ao mesmo tempo extasiante e irônica, o gol foi comemorado pelas duas torcidas. Os visitantes curitibanos celebravam o grande passo dado rumo à Série A do Brasileirão. Já os donos da casa, já rebaixados para a Série C, vibravam com a oportunidade de prejudicar o rival Remo, que almeja o título da Série B e a volta à elite, onde esteve pela última vez em 1994.
Na capital da COP30, o clima não está bom para a metade bicolor. Nos últimos dias, publicações de páginas ligadas ao Paysandu e comentários pelas ruas de Belém poderiam causar estranheza à primeira vista, já que a própria torcida clamava para que o time perdesse a partida contra o Coritiba. O motivo? Atrapalhar os planos do rival local. Se ao longo do ano o apoio dos torcedores não trouxe um desfecho feliz para o Papão da Curuzu, que fez uma campanha melancólica na Série B, ao menos na noite de ontem seus desejos foram atendidos: o time perdeu (2 a 1).
“Só a vitória dos irmãos do Coritiba interessa. É perder ou perder. Estamos fechados com o Coxa”, dizia o comentário de um torcedor do Paysandu na publicação da conta oficial do clube no X, anunciando o jogo de domingo.
Na porta do estádio, o torcedor Savio Paulo disse que iria aplaudir um hipotético gol do Coxa. "Hoje 90% da torcida vai torcer para o Coritiba. Se a gente ganhar não acrescenta nada mesmo."
Mais que aplausos, a torcida de fato comemorou como se fosse o próprio gol do time o chute certeiro do atacante Delatorre.
"Faz o que vocês fazem de melhor e toma o gol", gritou o torcedor Eduardo Souza para o goleiro Mateus Nogueira, do Paysandu, momentos antes do gol.
Nos arredores da Curuzu, torcedores do Coritiba inclusive transitavam pacificamente no meio da pequena concentração local. O clima tragicômico e melancólico dava o tom. Sem motivações para torcer — ao menos para o Paysandu — a torcida não compareceu em bom número e as arquibancadas ficaram vazias.
Na entrada do Paysandu no gramado, alguns torcedores arriscaram o grito envergonhado de “Vamos, Coritiba!”. Outro, devidamente irritado, já cobrava a equipe antes da bola rolar. "Não ganhou um jogo até agora, vão querer ganhar hoje?"
Na primeira falta cometida pelo Paysandu, as arquibancadas pediram expulsão. Quando algum jogador do time era desarmado, a arquibancada vibrava.
Mas, apesar da torcida contra, é difícil jogar contra o que o coração ensinou a vida inteira. Assim, quando o Papão conseguia um ataque perigoso, era possível ouvir os suspiros e os aplausos. Em alguns momentos, torcedores discutiam entre si, devido à escolha de torcida.
Quando Iury Castillo fez o segundo para o Coritiba, aos 40 minutos, foi celebrado. Mas quando o capitão do Paysandu, Quintana, diminuiu, já no 2º tempo, também houve comemoração. Uma das faixas expostas no estádio diz “Defender o Paysandu, a nossa única meta”.
Faltando apenas duas rodadas para o final do campeonato, o Remo ficou a cinco pontos de distância do Coritiba. O acesso ainda é um sonho bastante possível para o clube paraense, já o título virou uma missão muito difícil. Os próximos jogos são contra Avaí fora de casa e Goiás, um adversário direto, em Belém. Ao Coritiba basta apenas um ponto nas próximas rodadas para carimbar sua vaga na Série A.

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