Mulheres ganham espaço nos eSports em meio a sexismo, assédio e estereótipos de gênero
Os eSports podem parecer uma disciplina mista em teoria, mas as jogadoras que se aventuram nesse meio muitas vezes se deparam com um ambiente hostil, embora o setor predominantemente masculino esteja se tornando gradualmente mais inclusivo. Na sexta-feira, segundo dia da Paris Games Week, o encontro anual de fãs de videogames na capital francesa, a Team Eterna derrotou a Team G2 por 3 a 1 no Palais des Sports, em Paris.
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Essa foi a grande final do torneio "Game Changers" do videogame League of Legends, uma competição reservada para mulheres e pessoas que se identificam como mulheres. Um torneio exclusivamente feminino dentro de uma disciplina mista: o conceito pode parecer desnecessário, mas está começando a ganhar força no cenário competitivo de eSports.
"É importante lembrar que os eSports, por definição, são mistos, ao contrário dos esportes tradicionais, já que não há diferença física (em termos de participação) entre um homem e uma mulher", explicou à AFP Bertrand Amar, gerente de eSports da Webedia, organizadora do torneio. "Mas as equipes são mistas apenas no nome, e na maioria das vezes você só vê homens."
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Embora quase metade dos jogadores de videogame sejam mulheres, de acordo com o último levantamento da associação France Esports, elas são poucas quando se trata de seguir carreira nos eSports, onde representam, segundo estimativas, apenas entre 5% e 10% dos participantes. Sexismo, assédio, estereótipos de gênero, falta de modelos a seguir — as barreiras de entrada são variadas, lamenta Ève "Colomblbl" Monvoisin, finalista com a G2 na sexta-feira.
“Muitas meninas saíram de times mistos revoltadas porque não eram levadas em consideração, não eram ouvidas e, às vezes, eram culpadas pelas derrotas”, diz a jogadora de 26 anos.
Competições exclusivamente femininas, como a “Game Changers”, oferecem às jogadoras “um ambiente um pouco mais tranquilo”, afirma. “É preciso ganhar a confiança e a maturidade para se dedicar totalmente.”
“Somos todas iguais”
Vitória com o Team Eterna, Sasha Barrault, apelidada de “Sashy”, recebeu, como muitas outras jogadoras, uma enxurrada de insultos misóginos — e, no caso dela, transfóbicos — durante as partidas. Aos 23 anos, ela se sente mais à vontade em ligas reservadas para mulheres.
“No time, somos todas iguais, então é mais fácil treinar e jogar bem”, declara, embora confesse que seu objetivo ainda é fazer parte de uma estrutura tradicional.
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Mas as jogadoras que alcançaram isso em alto nível ainda são exceções. Uma delas é a canadense Ava "florescent" Eugene, que se juntou à equipe principal do clube Apeks no jogo Valorant na última temporada. Verdadeira cria dos "Game Changers", Ava se tornou a primeira mulher a participar do VCT, o mais alto nível competitivo do jogo de tiro, pertencente, assim como League of Legends, à editora Riot Games.
"Esse é o objetivo da abordagem de todas essas competições femininas", diz Bertrand Amar. "A ideia é ajudar o cenário feminino a evoluir, a se estruturar melhor, a participar de competições para que o nível geral aumente e, idealmente, no final, não haja mais competições exclusivamente femininas, mas apenas competições mistas."
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