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Mercado ilegal de cigarros impacta diretamente na segurança pública e gera aumento de homicídios e roubos, aponta estudo

02/11/2025 06:31 O Globo - Rio/Política RJ

Um levantamento inédito da Fundação Getulio Vargas (FGV) revela uma conexão direta entre o mercado ilegal de cigarros, que já avança sobre 32% das vendas no Brasil, e o avanço da violência no país. O estudo aponta que cada aumento de um ponto percentual na taxa de clandestinidade está estatisticamente associado a 239 novos homicídios dolosos por ano, além de centenas de novos casos de tráfico de drogas, roubos e apreensões de armas de fogo.
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De acordo com a pesquisa, o mercado ilícito de cigarros movimenta R$ 10,2 bilhões por ano para o crime organizado, o equivalente a cerca de 7% do faturamento total das facções. Esse dinheiro abastece redes que também atuam no tráfico de drogas e armas, utilizando as mesmas rotas e estruturas logísticas.
Entre os impactos observados, o levantamento mensura que o aumento de um ponto percentual na ilegalidade resulta, anualmente, em 892 novos registros de tráfico de drogas, 629 apreensões de armas de fogo, 339 roubos de carga, 2.868 roubos de veículos, 30 latrocínios, nove assaltos a banco e até duas mortes de agentes do Estado.
— A correlação aponta para um dos maiores desafios econômico e institucional de nosso tempo. Toda essa engrenagem que abastece o crime é resultado da combinação entre demanda constante, fragilidades na fiscalização fronteiriça e urbana e regulação altamente restritiva, pressionando o setor produtivo, fatores que abrem ainda mais caminho ao mercado ilícito — afirma Edson Vismona, presidente do Fórum Nacional contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP).
O estudo combinou dados da Pesquisa Ipec-Pack Swap (2024), do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), da Receita Federal, do Tesouro Nacional e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
— Essas relações reforçam o vínculo estrutural entre mercado ilegal e economia do crime organizado, com reflexos diretos na segurança pública. O trabalho evidencia que o mercado ilegal de cigarros constitui um desafio econômico e institucional de grande magnitude, articulando evasão fiscal, perda de empregos e fortalecimento de redes criminosas — pontua Camila Sena, pesquisadora da FGV.
Além dos efeitos na segurança pública, o estudo destaca também os prejuízos fiscais. A evasão de impostos do setor é estimada em R$ 7,2 bilhões em 2024, sendo R$ 3,9 bilhões em tributos federais e R$ 3,3 bilhões em ICMS estaduais e municipais. Recuperar apenas metade dessas perdas poderia gerar R$ 1,3 bilhão à arrecadação federal, valor equivalente a 11,8% do déficit primário projetado para o ano.
Segundo a FGV, 24% dos cigarros ilegais vêm do contrabando, principalmente do Paraguai e de fábricas clandestinas dentro do Brasil, que produzem réplicas de marcas conhecidas e legais, confundindo o consumidor. Outros 8% são produzidos por empresas nacionais devedoras contumazes, que atuam formalmente, mas não recolhem tributos e praticam preços abaixo do mínimo legal.

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