Massacre segue em Sudão, mostram satélites, e líderes europeus reagem: 'Parece o apocalipse'
Nova imagens divulgadas pelo Laboratório de Investigação Humanitária da Escola de Saúde Pública de Yale indicam que os massacres continuaram dentro e ao redor da cidade sudanesa de El-Fasher, em Darfur, tomada há quase uma semana pelo grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (FAR), em guerra com o Exército do Sudão há quase três anos. Neste sábado, autoridades europeias descreveram a situação no país como "apocalíptica" e "horrível".
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— O Sudão vive uma situação absolutamente apocalíptica, a maior crise humanitária do mundo — afirmou o ministro das Relações Exteriores alemão, Johann Wadephul, acrescentando que as FAR "prometeram publicamente proteger os civis e serão responsabilizadas por essas ações".
Wadephul discursava em uma conferência no Bahrein ao lado de seu homólogo jordaniano, Ayman Safadi, e da ministra das Relações Exteriores britânica, Yvette Cooper, que também condenaram a violência no Sudão. Cooper afirmou que Londres fornecerá cerca de US$ 6,6 milhões (R$ 35,48 milhões) em ajuda humanitária. O Reino Unido já está fornecendo 120 milhões de libras ao país.
Imagem de satélite tirada em 30 de outubro mostra uma vista panorâmica de uma área queimada ao longo de talude a noroeste de El-Fasher
SATELLITE IMAGE ©2025 VANTOR / AFP
A chanceler britânica disse que os relatos recebidos sobre o conflito nos últimos dias "são verdadeiramente horríveis":
— Atrocidades, execuções em massa, fome e o uso devastador do estupro como arma de guerra, com mulheres e crianças sofrendo o impacto mais severo da maior crise humanitária do século XXI.
Após um cerco de 18 meses, que deixou a população em estado de fome, os milicianos das FAR, chefiada pelo general Mohammed Hamdan Dagalo, tomaram a cidade de El-Fasher no domingo passado. A captura significou a expulsão do Exército sudanês, liderado pelo comandante e líder de facto do Sudão, Abdel Fatah al-Burhan, de seu último bastião na vasta região ocidental de Darfur, palco de um genocídio há 20 anos.
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Al-Burhan e Dagalo eram aliados durante a deposição do governo civil em 2021, mas romperam após divergências sobre a integração dos paramilitares à tropa regular e o futuro político do país.
Desde a queda da cidade, surgiram relatos de execuções sumárias, violência sexual, ataques a cooperantes humanitários, saques e sequestros. O Exército denuncia o assassinato de 2 mil pessoas pelos milicianos durante avanço das FAR. Sobreviventes que chegaram à vizinha Tawila, situada a 70 km a oeste, também relataram à AFP assassinatos em massa, crianças baleadas na frente de seus pais e civis espancados e roubados enquanto fugiam. As telecomunicações continuam em grande parte interrompidas.
— No sábado [25 de outubro], às 6 da manhã, os bombardeios eram muito intensos (...) Depois de uma hora, sete combatentes das FAR entraram em nossa casa. Eles tiraram meu telefone, revistaram até minha roupa íntima e mataram meu filho de 16 anos — relatou esta semana Hayat, mãe de cinco filhos.
Husein, outro sobrevivente, disse que "a situação em El-Fasher é terrível".
— Há cadáveres nas ruas e ninguém para enterrá-los — afirmou.
Perigo iminente
Um novo relatório do Laboratório de Yale, publicado na sexta-feira, 31, indicou que as imagens de satélite mais recentes sugerem que a maioria da população pode estar "morta, sequestrada ou escondida", uma vez que não se observam "grandes movimentos" de civis fugindo.
Imagem de satélite tirada em 30 de outubro mostra uma vista geral do hospital infantil em El-Fasher
IMAGEM DE SATÉLITE ©2025 VANTOR / AFP
Entre segunda e sexta-feira, o laboratório identificou pelo menos 31 pontos — em bairros, um campus universitário e instalações militares — com elementos que podem ser corpos humanos. "Os indícios de que os massacres continuam são claramente visíveis", afirmaram.
Combinação de imagens de satélite fornecidas pela Vantor, tiradas em 15, 25 e 30 de outubro de 2025, que ilustram uma série temporal da construção de uma barreira na vila de Kinin, perto de El-Fasher
IMAGEM DE SATÉLITE ©2025 VANTOR / AFP
Imagens publicadas pelo laboratório em 27 de outubro mostram "evidências de assassinatos em massa contínuos". Um diretor do estudo afirmou à agência francesa AFP que marcas nas imagens eram "consistentes com corpos humanos adultos" e que a descoloração observada no solo podia indicar "poças de sangue".
Imagens de satélite revelam atrocidade visível do espaço no Sudão
Reprodução/X
A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) juntou-se às preocupações e disse temer que "um grande número de pessoas" continue em perigo de morte em El-Fasher.
— O número de pessoas que chegaram a Tawila é muito baixo (...) Onde estão essas pes
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