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Fungo geneticamente modificado pode ajudar a resolver seu problema com mosquitos; entenda

02/11/2025 12:33 O Globo - Rio/Política RJ

Pesquisadores relataram na semana passada, na revista Nature Microbiology, que o Metarhizium — um fungo já usado no controle de pragas — pode ser geneticamente modificado para produzir em grandes quantidades uma substância de odor adocicado, virtualmente irresistível para os mosquitos. Quando armadilhas foram revestidas com esse fungo, entre 90% e 100% dos mosquitos morreram em experimentos de laboratório. Os cientistas afirmam que isso pode oferecer uma forma acessível, escalável e mais ecológica de conter os insetos sugadores de sangue.
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— Este trabalho é interessante porque combina uma ideia clássica de controle biológico com uma abordagem moderna e de alta tecnologia. Eles mostram que esse tipo de ideia pode ter futuro — disse Noah Rose, biólogo que estuda a transmissão de doenças por mosquitos na Universidade da Califórnia em San Diego, que não participou do estudo.
Os mosquitos são, sob alguns critérios, os animais mais mortais do planeta. Eles transmitem malária, dengue e outras doenças, que coletivamente infectam até 700 milhões de pessoas e matam cerca de 1 milhão todos os anos.
Profissionais de saúde pública combatem as populações desses insetos com fumigações e redes de dormir impregnadas de pesticidas. Mas muitas espécies de mosquitos desenvolveram resistência a essas intervenções químicas.
Técnicas emergentes vêm apostando em estratégias biológicas inteligentes — por exemplo, impedir o desenvolvimento de doenças ao infectar os mosquitos com a bactéria Wolbachia, ou esterilizá-los com radiação. O novo estudo oferece mais uma ferramenta: um fungo que atrai os mosquitos para a própria morte.
O Metarhizium atrai uma ampla variedade de insetos hospedeiros ao emitir longifoleno, um composto de aroma amadeirado usado pela indústria de perfumes. O fungo basicamente se disfarça de flor saborosa. Os mosquitos são atraídos pelo cheiro, e os esporos do fungo os matam ao invadir seus organismos e consumi-los por dentro. Mas, na natureza, o Metarhizium só produz longifoleno depois de já ter matado um inseto.
No estudo, os pesquisadores engenheiraram geneticamente uma cepa do fungo para que ele produzisse longifoleno constantemente, em níveis extremamente altos. Isso envolveu a inserção do gene responsável pela síntese do composto — originário de pinheiros — no fungo. As cepas modificadas foram cultivadas em um material barato feito de trigo e arroz, depois moldadas em armadilhas quadradas um pouco menores que uma revista.
Em cerca de cinco dias, as armadilhas mataram metade dos mosquitos usados nos experimentos — realizados em uma sala com metade do tamanho de uma quadra de pickleball — e quase todos morreram nos dias seguintes. As armadilhas funcionaram até quando os cientistas colocaram cheiros concorrentes no ambiente, incluindo o de voluntários humanos dormindo sob mosquiteiros dentro da câmara experimental.
Raymond St. Leger, micólogo e entomologista da Universidade de Maryland e autor do estudo, afirmou que a equipe desenvolveu uma armadilha patenteada com aberturas pelas quais apenas mosquitos conseguem passar. Isso pode amenizar preocupações sobre o possível impacto do método em insetos benéficos ou ameaçados. A equipe pretende testar os protótipos em ambientes externos em breve.
O Dr. St. Leger não vê essa técnica como substituta de outras formas de controle de mosquitos. Ele e seus colaboradores estudam como o Metarhizium pode ser combinado com outros métodos.
Ainda assim, uma das vantagens dessa abordagem é que o fungo é fácil de produzir em diferentes contextos. Colaboradores do Dr. St. Leger na China já construíram uma fábrica capaz de produzir o fungo por tonelada, enquanto comunidades rurais ao redor do mundo podem cultivá-lo em arroz e fezes de galinha.
O Dr. Rose disse compreender o apelo do método, especialmente se os mosquitos não forem capazes de desenvolver resistência. Como os mosquitos continuam driblando as intervenções humanas, Rose vê valor em deixar que milhões de anos de coevolução entre fungos e insetos façam o trabalho pesado.
— Gosto da ideia de que você não precisa eliminá-los. les vêm até você, e o inimigo natural deles faz a eliminação por você — disse ele.

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