Logo
Tudo que você precisa saber sobre as eleições em um só lugar

Dalal Achcar apresenta balé inédito criado por Tom Jobim há mais de 50 anos

02/11/2025 08:01 O Globo - Rio/Política RJ

Ipanema, início dos anos 1960. A jovem Dalal Achcar começa a dar aulas de balé clássico em um estúdio no térreo de um edifício na Visconde de Pirajá, quase esquina com a então Rua Montenegro.
Fafá de Belém critica falta de representatividade do povo na COP30 e relembra burnout: 'Tive medo que pensassem que era overdose'
Paolla Oliveira e a libertação do olhar alheio: como a atriz inspira mulheres a fazerem as pazes com o corpo
Amigo da família da coreógrafa, Vinicius de Moraes, volta e meia, pedia o espaço emprestado. “Na verdade, ele e Tom Jobim queriam usar o meu piano. Ao final das aulas, ficavam lá compondo”, lembra Dalal. “Eu, sentada em um banquinho, só observava.”
Ensaio do balé "Dom Quixote", no Municipal, com Marcelo Gomes (2010)
Mônica Imbuzeiro
Certo dia, ela tomou coragem e resolveu “cobrar o aluguel”: “Pedi a Tom para fazer um balé para mim”. E ele o fez.
Cinco décadas depois, enfim, “Água de meninos” vai sair do papel. No próximo dia 22, o balé inédito, escrito por Antonio Carlos Jobim para Dalal Achcar, estreia no palco da Cidade das Artes, na Barra.
A partitura do balé “Água de meninos”, criado por Tom Jobim
Acervo Digitalizado
“Na época, eu tinha acabado de voltar de uma temporada em Salvador e comentei com o Tom que gostaria de abordar o universo das feiras livres”, lembra a coreógrafa, justificando o nome “Águas de meninos”, em homenagem à famosa feira de Salvador.
“A partitura ficou guardada por todos esses anos nos meus arquivos, nunca tive dinheiro para orquestrar. Agora, finalmente, consegui”, celebra ela, sobre o apoio da irmã, a produtora cultural Aniela Jordan.
Com 21 bailarinos, 8 crianças e 4 atores, o espetáculo narra justamente o encontro de Dalal com Vinicius e Tom, que, na década de 1990, passou a levar a filha caçula, Maria Luiza Jobim, para fazer suas aulas.
Com Margot Fonteyn em 73 e ao laldo de Lady Di no Municipal em 91
Tim Graham/Arquivo pessoal
O balé mescla Salvador e Rio, e retrata a bossa nova, com direito a “Garota de Ipanema” e carnaval (e bailarinas sambando na ponta da sapatilha), Bar Veloso e a primeira academia de Dalal.
No filme “Ainda estou aqui”, em que Dalal, melhor amiga de Eunice Paiva, foi interpretada pela atriz Camila Márdila, o estúdio também é citado.
“Ela levou o Brasil para o mundo por meio do balé. Foi pioneira na inserção de elementos da nossa cultura nesse ambiente eurocêntrico tão restrito. Além de também ter ampliado o alcance da dança clássica no próprio Brasil, promovendo projetos de inclusão social através da dança”, diz Camila.
Dalal chegou a se formar bailarina, mas encontrou-se mesmo como coreógrafa e produtora cultural — tanto que é difícil encontrar fotos suas dançando. “Tomo cuidado para não ficar vaidosa”, diz.
Coreógrafa carioca foi condecorada pela Rainha Elizabeth II
Acervo Digitalizado
A que abre esta reportagem está nos arquivos do Globo. “Eu era estudante e usava aparelho nos dentes”, recorda a bailarina, explicando a falta do sorriso aberto que lhe é característico no registro de 1956.
Foi nesta data, aos 20 anos, que ela fundou a Associação de Ballet do Rio de Janeiro. Convidada para fazer um gala e passar 10 dias com a trupe de dançarinos na Inglaterra, acabou ficando quatro meses e realizou 90 apresentações em capitais europeias.
Dalal com Fernanda Montenegro
Reprodução
A música era de Heitor Villa-Lobos e os cenários, elaborados por Di Cavalcanti e Roberto Burle Marx, como mostram as fichas técnicas dos cartazes dos espetáculos pendurados em sua sala, no segundo andar da academia de dança que leva seu nome, na Gávea. “Voltei realizada, porém falida, sem um tostão no bolso.”
Mas cheia de prestígio. O burburinho da turnê na Europa chamou a atenção dos grandes e resultou na histórica apresentação de Margot Fonteyn e Rudolf Nureyev no Maracanãzinho, em 1967. Democratizar o acesso à dança, desde sempre, é bandeira de Dalal.
Dalal e Rudolf Nureyev
Acervo Digitalizado
Na década de 1980, a coreógrafa levou “Romeu e Julieta” para um palco na Praia de Botafogo. Ana Botafogo foi a protagonista. “Dalal já mesclava o balé clássico com a dança contemporânea como forma de atingir um maior número de público, sempre com grande qualidade e refinamento. Por sua influência, comecei a minha carreira com vontade de popularizar a dança”, afirma a bailarina.
“Hoje, como veterana, Dalal tem o mesmo fôlego e entusiasmo de 40 anos atrás, prova de que a dança realmente faz muito bem”, ressalta Ana.
Dalal Achcar na tradicional escola de dança que leva seu nome, na Gávea
Ana Branco / Agência O Globo
Sempre pioneira, Dalal trouxe ao Brasil a metodologia da Royal Academy of Dance, que aplica até hoje em forma de exames na sua tradicional escola de dança. A coreógrafa, aliás, faz questão de manter o piano em sala de aula: “A arte não é mecânica”, diz. “Quero que os alunos aprendam a gostar de balé. Mesmo que sigam por outra profissão, forma-se público, o que ajuda a aumentar o mercado de trabalho.”
Em março deste ano, o seu balé “Floresta Amazônica” cele

Fonte original: abrir