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Corpo de morto em ataque a tiros em Irajá, será levado para Salvador; prefeitura do Rio custeia traslado

21/10/2025 15:29 O Globo - Rio/Política RJ

O corpo de Etervaldo Bispo dos Santos, conhecido como Bahia, uma das vítimas do ataque a tiros contra pessoas em situação de rua em Irajá, na Zona Norte do Rio, será transladado para Salvador, onde ocorrerá o velório com a família. A Secretaria Municipal de Assistência Social do Rio vai custear o transporte, após articulação entre o projeto social Batikum Afro — do qual Etervaldo participava — e a Defensoria Pública do Estado.
Segundo a defensora pública Christiane Xavier de Souza, o processo envolveu uma série de etapas burocráticas, como a obtenção de orçamentos de funerárias, autorizações formais e a dispensa de licitação para o custeio do serviço.
— Foi feito todo o trâmite legal: a cotação com as funerárias, a autorização e a deliberação pelo município. Agora o corpo vai ser encaminhado, tratado do jeito que tem que ser, com urna própria, e levado para Salvador, onde a família vai receber e sepultar no cemitério de São Sebastião — explicou a defensora.
Christiane destacou que a articulação entre o poder público e a sociedade civil foi essencial para garantir que Etervaldo tivesse um desfecho digno.
A defensora também criticou o estigma que costuma recair sobre pessoas em situação de rua e lembrou que os dois homens mortos no ataque não tinham documentação civil, o que dificultou a identificação e o contato com familiares.
— Foi preciso um trabalho de rede para identificar as vítimas e localizar as famílias. Etervaldo e Fábio não tinham documentos. Quando a gente identifica, essas pessoas entram nas estatísticas, senão, viram só números sem nome — disse.
O ataque
O crime aconteceu na madrugada da ultima sexta-feira, por volta das 4h45, sob o viaduto da Avenida Pastor Martin Luther King Jr., nas proximidades da Estação de Metrô de Irajá. Dois homens foram mortos e um terceiro, Jaílton Matias Anselmo, de 37 anos, sobreviveu, mas permanece entubado, com balas alojadas, à espera de cirurgia no Hospital Estadual Getúlio Vargas (HEGV), na Penha.
Testemunhas relataram que os criminosos chegaram em um carro e dispararam contra pessoas que dormiam sob o viaduto. A perícia da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) encontrou cápsulas de fuzil e pistola, indicando o uso de armamento pesado. O local fica na divisa entre as comunidades Rio D’Ouro e Malvina, área de atuação do Terceiro Comando Puro (TCP). A motivação continua sendo investigada.
Durante a manhã, equipes da Secretaria de Assistência Social estiveram no local para oferecer apoio às pessoas em situação de rua que continuavam sob o viaduto. Colchões, cobertores e roupas ficaram espalhados pelo chão após o tiroteio.
Quem era Etervaldo
Natural de Salvador (BA), Etervaldo Bispo dos Santos tinha 52 anos e vivia nas ruas do Rio há mais de uma década. Antes disso, trabalhou como cabeleireiro e percussionista. Era presença constante em ações do Batikum Afro, projeto social que promove oficinas e apresentações de música afro-brasileira em comunidades da Zona Norte.
— Ele cantava, participava e estava sempre com a gente. Tocávamos percussão baiana, e ele lembrava muito de Salvador. Um dia apareceu do nada e começou a cantar com a gente. Criamos uma relação, todo ensaio ele aparecia — contou Luccas Xaxará, diretor do projeto.
Mesmo após sofrer um AVC que comprometeu a mobilidade de um dos braços, Bahia seguia participando dos encontros, cantando e animando os colegas.
— Chegava, começava a cantar e animava todo mundo — lembrou Xaxará.
Agora, graças à mobilização de amigos e instituições, o corpo de Bahia voltará à sua cidade natal. O sepultamento será no Cemitério de São Sebastião, em Salvador, onde a família o aguardará para a despedida.

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