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Como arrumar tempo para ler? Confira as dicas de Fátima Bernardes, Tony Bellotto, Letrux e outras personalidades

02/11/2025 06:31 O Globo - Rio/Política RJ

Está cada vez mais difícil arrumar tempo para ler. A rotina atarefada, o cansaço e as notificações piscando na tela do celular, tudo trabalha para sugar nossa atenção e nos afastar dos livros. Tanto que na última pesquisa Retratos da Leitura, divulgada em novembro do ano passado, 46% dos entrevistados disseram que gostariam de ler mais e não o fazem por “falta de tempo”. E mesmo quando ele sobra, a leitura precisa competir com um punhado de outros lazeres. Em resposta à pergunta “o que gosta de fazer em seu tempo livre?”, a leitura de livros, impressos ou digitais, ficou em décimo segundo lugar, citada por 20% dos entrevistados. Bem atrás do uso da internet (78%), dos aplicativos de mensagens como WhatsApp e Telegram (71%) e das redes sociais (49%).
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De 2019 e 2024, o Brasil perdeu sete milhões de leitores. No ano passado, 53% dos entrevistados declararam não terem lido nenhum livro, inteiro ou em partes, nos três meses anteriores. Os índices de leitura não estão em baixa só aqui. Em agosto, uma pesquisa da Universiy College London e da Universidade da Flórida constatou que a proporção de americanos que leem por prazer despencou de 28% para 16% entre 2004 e 2023 — queda de cerca de 40%.
Diante desses números, a revista americana New York questionou leitores experientes sobre como eles encontram tempo para ler. No mesmo espírito, o GLOBO contatou personalidades de diversas áreas — das novelas à música, da literatura ao futebol — para perguntar como mantêm uma rotina de leitura. As respostas mostram que o celular é o maior inimigo do hábito. Se estiver lendo e topar com uma palavra desconhecida, é melhor nem pegar o telefone para checar o significado. O risco é passar um tempo irrecuperável nas redes.
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Esses leitores incansáveis inventaram estratégias a fim de arrumar tempo: de sair de casa para ler a aprender a virar as páginas equilibrando-se sobre uma bicicleta ergométrica. Confira os depoimentos.
Tony Bellotto, músico e escritor
Deixo um livro na cabeceira para ler antes de dormir. Quando viajo para fazer show, aproveito para ler no ônibus ou no avião. Em casa, gosto de deitar depois do almoço para ler. Percebo que as redes sociais têm me tomado tempo de leitura. Às vezes, à noite, pego o celular para uma checada e acabo nunca chegando ao livro. Ou quando chego já estou com muito sono e abandono o livro rápido. Por isso que gosto de ler no avião: não tem internet. Às vezes, me coloco algumas metas, como ler os clássicos. Passei um ano só lendo “Em busca do tempo perdido”, do Marcel Proust. Quando estou escrevendo e chego a um impasse, volto aos meus autores favoritos: Tolstói, Hemingway, John Fante, Rubem Fonseca.
Letrux, cantora e escritora
Costumo ler mais antes de dormir e no avião. Eu amo não ter wi-fi no avião. Meu sonho é que a internet desligasse toda noite às oito. Sou bem fraca de resistir à tentação das redes, entro mais do que eu deveria e queria. O que mais rouba o tempo de leitura é o scrolling aleatório. Quando me vejo na página da veterinária da mãe do marido da filha da Xuxa penso: “chega!” Ainda não entrei no mundo dos e-books, nem audiolivros, mas sei que esse momento vai chegar. Mas sem pressa. Durante a pandemia, conseguia ler mais de um livro de uma vez. Estou sempre lendo uma biografia, sei que há coisas ruins no mundo, mas também há biografias bem escritas, vidas bem analisadas de gente que admiro e tenho curiosidade. Leio muitos romances e poesias. Ganho muitos livros dos fãs, a maioria poesia. Gosto de sair do celular e fazer palavras cruzadas antes de pegar um livro. Acho que é uma boa transição de mundos. Me ajuda um pouco.
Luiz Antonio Simas, historiador
Não sou um sujeito noturno. Durmo cedo, acordo 4h, 4h30. Meu horário de leitura predileto é o do dia nascendo. Sair do Twitter (antigo nome da rede X) foi crucial para ter mais tempo para ler. Uso o Instagram só para divulgar meu tra- balho, mas no Twitter era muito ba- te-volta, me consumia. Por incrível que apreça, o que mais me rouba tempo de leitura não é o celular, é o vício em ver futebol na TV. Sou daqueles que assistem a qualquer campeonato. Me dá peso na consciência, mas não consigo me livrar.
O escritor Jeferson Tenório: "A epidemia de falta de atenção não afeta só os jovens"
Divulgação
Jeferson Tenório, escritor
Tento ler de manhã, entre às 10h e o meio-dia, que é quando o meu filho dorme. O celular e as redes sociais roubam muito tempo de leitura. A epidemia de falta de atenção não afeta só os jovens. Leio num cômodo sem celular e sem computador perto. Tento criar um ambiente propício, com pilhas de livros em volta. Começo ouvindo uma música ou lendo um poema. O poema é mais para

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