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Às vésperas da estreia de 'O agente secreto', Kleber Mendonça Filho fala sobre Oscar: 'Vou aonde o filme vai'

02/11/2025 07:31 O Globo - Rio/Política RJ

Fazia mais de um mês que Kleber Mendonça Filho não pisava em sua casa, no Recife. O cineasta embarcou para o Festival de Biarritz, na França, em setembro, de onde viajou de carro para San Sebastián, na Espanha, e seguiu para Madri. Depois, foi para Zurique, na Suíça, e cruzou o Atlântico, rumo aos Estados Unidos. Aterrissou em Los Angeles, viajou para Morélia, no México, voltou à Europa para uma passagem pela Alemanha e retornou ao solo americano. Em cada parada, exibiu seu novo longa, “O agente secreto”, em festivais e sessões especiais, e viu o peso da bagagem aumentar. A obra, cuja estreia no Brasil será nesta quinta-feira (6) e o trouxe, finalmente, de volta ao país, enfileira troféus, homenagens, críticas elogiosas e longos aplausos após as projeções.
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Tem sido assim desde que o filme saiu da última edição do Festival de Cannes, em maio deste ano, com dois troféus. Venceu nas categorias de melhor direção e de melhor ator, este para Wagner Moura, protagonista da história, na pele de Marcelo, um professor viúvo que foge de São Paulo para o Recife, em 1977, durante a ditadura militar. “O prestígio conquistado ali foi muito grande. É como se, naquele momento, sem eu nem ter sido avisado, o longa tivesse entrado numa esteira rolante de campanha. É assim que o sistema, digamos industrial, funciona”, diz o diretor, em entrevista por chamada de vídeo, enquanto toma café da manhã num hotel em Nova York, pouco mais de uma semana atrás.
Por campanha leia-se uma rolagem até a premiação máxima do audiovisual: o Oscar. Escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para representar o Brasil na categoria de melhor filme internacional, a obra também figura nas principais listas de apostas para indicados em direção e ator, numa trajetória semelhante à do bem-sucedido “Ainda estou aqui” (2024), de Walter Salles. “Você conhece muita gente, é apresentado a pessoas que fazem parte da Academia, às vezes do Bafta, e também vai construindo o lançamento nos Estados Unidos, que é muito importante”, detalha Kleber. A distribuição no país ficou a cargo da Neon, mesma produtora de “Anora”, que arrebatou cinco estatuetas no Oscar deste ano, incluindo a de melhor longa. “Sempre digo que vou aonde o filme vai. Tenho energia, amor, paciência e até mesmo curiosidade em investigar esse processo.”
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A lista dos indicados será divulgada somente em janeiro de 2026. Por mais que haja muito trabalho pelo caminho e as expectativas sejam cada vez maiores, Kleber afirma manter a serenidade. “Acabamos de começar, e as pessoas já estão lá na frente. Mas lido bem com isso. O brasileiro tem um orgulho muito grande da representação do Brasil fora do país. Esse peso, contudo, não é meu”, avisa. “Só quero fazer bem o meu trabalho. Em primeiro lugar, preciso estar feliz com o filme, que está indo longe, sendo muito bem recebido.”
Parte desse reconhecimento, na opinião do diretor, tem a ver com a maneira como o passado representado na trama ecoa no mundo contemporâneo. Afinal, o totalitarismo e a violência, marcas de regimes autoritários, têm sido ressuscitados por líderes globais e encontram adesão por algumas camadas de diferentes populações. “Ironicamente, o filme se passa em 1977, mas alguns aspectos relacionados à natureza humana não mudaram muito”, compara Kleber. “É curioso ver reações de americanos muito sensíveis ao que se passa nos Estados Unidos, por exemplo. Na Espanha, também houve um interesse muito forte, talvez, pelo próprio passado do país, com a questão da memória e a incapacidade da sociedade espanhola em lidar com o que se passou no regime de Franco. Estou curioso para saber como será a resposta no Brasil.”
O bom desempenho nas pré-estreias é também, segundo o cineasta, reflexo da visibilidade alcançada pelo audiovisual brasileiro nos últimos anos, impulsionada pela volta dos investimentos em cultura, setor negligenciado e vilanizado em governos passados. O mesmo aspecto é reiterado por Wagner Moura, ao comentar o sucesso da obra, cujo orçamento foi de R$ 28 milhões, com aportes públicos e privados no Brasil, e fundos oriundos da coprodução internacional. “Não há como falar disso sem mencionar as políticas públicas e a volta do Ministério da Cultura”, destaca o ator. “Veja que bonito: fiquei tanto tempo fazendo filmes no exterior, e o longa que me deu o prêmio mais importante da minha carreira, em Cannes, foi filmado em português.”
A primeira exibição no país se deu no Recife, cidade natal do diretor. Naquela noite de 10 de setembro, os convidados celebraram não apenas a qualidade ci

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