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Ação policial no Rio é aprovada por maioria, mas insegurança aumenta, diz pesquisa com moradores

02/11/2025 06:30 O Globo - Rio/Política RJ

A megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, na semana passada, foi aprovada por 64% dos moradores do estado, mostram os dados da pesquisa Genial/Quaest, cujo detalhamento foi liberado com exclusividade para O GLOBO. A ação policial, que resultou na morte de ao menos 121 pessoas, foi bem avaliada em todos os segmentos da população, mas não resultou no aumento da percepção de segurança do estado: a maioria dos entrevistados relata que, depois do episódio, se sente menos segura, enxerga que o estado está diante de um cenário de guerra e teme a retaliação dos traficantes.

Organizada para desmantelar o “QG do Comando Vermelho”, segundo o governo, a operação teve o maior aval entre os homens (79%) do que entre as mulheres (51%), além de ter percentuais de aprovação superiores entre pessoas de renda familiar média (69%), comparadas aos mais pobres (58%) e àqueles que recebem mais de cinco salários mínimos (63%).


O episódio também foi mais bem visto tanto por moradores da capital (68%) quanto da Baixada Fluminense (73%), em comparação a outras regiões do estado. Os índices de avaliação positiva também foram maiores entre os que se declaram bolsonaristas (93%) e de direita (92%) do que entre lulistas (35%) e os que se identificam a esquerda (27%).


— Os números são muito eloquentes ao mostrarem que a aprovação da operação é muito alta, especialmente entre os homens e na classe média, grupo de eleitores que tem demonstrado apoio a esse tipo de ação para combater as facções. Mas isso não significa, necessariamente, que as pessoas no estado estejam se sentindo mais seguras ou tranquilas diante da realidade em que vivem — diz o diretor da Quaest, Felipe Nunes.
Isso porque, o levantamento mostra que, após a operação, somente 35% se sentem mais protegidos e outros 52% afirmam estar menos seguros do que antes. Além disso, 74% relatam temer ações de retaliação dos traficantes, iniciadas na tarde da operação com os bloqueios das principais vias da cidade. Na data, ônibus e carros atravessados impediram o fluxo das ruas, escolas e universidades cancelaram as aulas, e a volta para casa para de transporte público foi tumultuada. Na manhã seguinte, mais de 50 corpos foram encontrados na mata e expostos em uma praça próxima ao local de confronto, somando-se aos 64 mortos registrados no dia anterior.

Além das mortes, a operação resultou na prisão de 113 pessoas, entre as quais há o registro de dez menores. O principal alvo capturado foi o traficante Thiago do Nascimento Mendes, conhecido como Belão, considerado o braço direito de Edgard Alves de Andrade, o Doca — um dos chefes máximos do CV na região. Também houve apreensão de um número recorde de armamentos durante uma única ação: 118 armas de fogo, incluindo 19 fuzis, 26 pistolas e um revólver. O episódio foi descrito pelo secretário de de Polícia Civil, Felipe Curi, como uma ação de “ grande perda de armas” para o CV e classificado como “um sucesso” pelo governador do estado, Cláudio Castro (PL-RJ), em entrevista coletiva na última quarta-feira.
— De vítimas ontem lá, só tivemos os policiais e eu rogo a Deus pela vidas deles e pelo conforto às suas famílias. Tirando isso, a operação foi um sucesso — disse o governador na ocasião.
Alinhamento com o estado
O estado do Rio, por sua vez, foi descrito como parte de uma “guerra” por 87%, e somente 13% discordaram. Outros 51% disseram que as demais grandes cidades brasileiras passam pelo mesmo, afirmação que gerou discordância de 42%. Entre os entrevistados, no entanto, 48% disseram que as forças policiais estariam mais preparadas em caso de um confronto, enquanto 44% alegaram que as facções sairiam na frente.

A declaração de Castro foi alvo de concordância de 58% dos ouvidos pela Quaest, enquanto 32% viram a situação como um “fracasso". Um maior percentual (73%) afirmou que a polícia deveria realizar mais ações parecidas futuramente.

— A percepção é de que o poder público já não tem tanta vantagem em relação às facções. A população reconhece que o Estado não está preparado, enquanto os criminosos são profissionais, organizados, têm estrutura. Isso revela um problema grave de segurança pública: o Estado, que deveria deter o monopólio do uso da força, está perdendo espaço para o crime organizado — acrescenta Nunes.
Ao serem questionados se o governo do Rio teria capacidade para combater o crime organizado sozinho, 62% responderam que não e apenas 36% disseram que sim. O grupo, no entanto, não chegou a um consenso sobre qual entidade estaria mais habilitada para assumir a tarefa: 31% afirmaram ser o governo federal, 30% fizeram referência aos governos dos estados, 28% sugeriram que a responsabilidade fosse assumida pelo Exército e 11% não souberam responder.
O levantamento ouviu 1.500 pessoas de 40 municípios do RJ entre 30 e 31 de outubro. A margem de erro considerada foi de três pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança considerado foi de 95%.

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