A verdade por trás dos alimentos
Nem sempre o que parece é o que realmente é. Por trás de embalagens atraentes e rótulos bem impressos, pode se esconder um problema silencioso e global: a falsificação e a adulteração de alimentos.
Embora sejam práticas diferentes, ambas têm algo em comum — causam prejuízos profundos. Empresas perdem credibilidade, consumidores colocam a saúde em risco e a confiança nas marcas é abalada.
Essas fraudes não escolhem fronteiras nem tipos de produtos. Elas atingem alimentos comuns do nosso dia a dia e circulam em todos os continentes.
Os alimentos falsificados são criados para imitar produtos legítimos — copiam a aparência, a textura e até o rótulo de marcas conhecidas. No entanto, na essência, são uma mentira cuidadosamente construída. O objetivo é simples: ter lucro rápido às custas do consumidor.
Para isso, falsificadores recorrem a artifícios engenhosos: luzes coloridas para mascarar a cor da carne, lonas tingidas que alteram o aspecto do produto ou até a reutilização de selos e lacres oficiais em mercadorias produzidas clandestinamente, prática muito comum no caso dos suplementos alimentares. No início de setembro, a polícia apreendeu quatro toneladas de suplementos alimentares adulterados em uma distribuidora que funcionava sem autorização da Anvisa, servindo como centro de distribuição para vendas online em plataformas como Shopee e Mercado Livre, com envio a diversos estados do país. Entre os itens encontrados estavam creatina, whey protein, frascos e rótulos de marcas variadas, além de equipamentos usados na falsificação.
No mais alarmante: em muitas situações, a fraude é quase impossível de perceber a olho nu. Prova disso são os recentes casos de intoxicação por metanol que já causou nove mortes confirmadas só em São Paulo, e dezenas de internações, algumas com consequências graves.
A falsificação de alimentos não é nova — mas se renova a cada dia. Os fraudadores são informados, adaptáveis e estratégicos, sempre atentos a novas brechas no sistema.
Um relatório da ONG Oceana revelou que, nos Estados Unidos, mais de 90% dos peixes e frutos do mar consumidos são importados, mas apenas 1% é inspecionado quanto a fraude. E o dado mais surpreendente: até 87% desses produtos podem estar rotulados incorretamente. No Canadá, o número também impressiona — 40% dos peixes e frutos do mar analisados estavam identificados de forma errada.
Já os alimentos adulterados são aqueles que tiveram sua essência modificada — de propósito. São produtos impuros, alterados em sua composição, e muitas vezes sem que o consumidor perceba.
Essas adulterações se manifestam de três formas principais: a substituição (quando um ingrediente é total ou parcialmente trocado por outro, por exemplo: adição de melamina ao leite para simular um teor maior de proteínas), a dição (ocorre quando se incluem substâncias estranhas para melhorar a aparência de produtos inferiores, como sementes de mamão misturadas à pimenta-do-reino ou areia adicionada ao sal) e a remoção (quando um componente essencial é retirado, comprometendo o valor nutricional do alimento, como no café descafeinado vendido como puro).
Os produtos mais vulneráveis a esse tipo de manipulação são justamente aqueles que mais valorizamos pela qualidade e autenticidade: café, azeite de oliva, açafrão e outros temperos e bebidas alcoólicas.
Cada fraude representa uma quebra de confiança — e um lembrete de que a segurança alimentar começa com informação e vigilância. Saber identificar, exigir transparência e valorizar a procedência são passos essenciais para proteger o que realmente importa: a saúde e a confiança de quem consome.
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